O piano é o elemento central, a bateria é exclusivamente eletrónica, há duas faixas em português, muitas cordas. O Verão dos Gift é azul, deixa entrar uma brisa, trata delicadamente o amor, mas tem uma densidade que à partida parecia desligada do conceito.

Depois do impactante Altar, de 2017, disco ambicioso, de renovação, Verão volta a ter o dedo de Brian Eno mas traz mais lembranças dos Gift da primeira década de vida do que a obra de há dois anos: “Cabin”, por exemplo, poderia perfeitamente integrar AM/FM (2004), “Lowland” é o primeiro tema desde “Song For a Blue Heart” (de Film, de 2001) cantado na íntegra pelo compositor Nuno Gonçalves, e muitos arranjos e muitos sons evocam, precisamente, o disco de virar de década dos Gift, o segundo de originais do grupo.

E, depois, um mundo novo acontece. E chegamos a “Vulcão”, faixa nove. Talvez seja o entrelaçar de cordas com a bateria eletrónica, o coro quase gospel ajuda, o piano e a voz de Sónia Tavares estão lá: é uma das maiores canções de sempre dos Gift. “Impressiveness”, na primeira metade do disco, é outro dos momentos altos, embora musicalmente se situe no plano oposto: é instrospetiva, densa, vive da tensão e não da explosão.

No final, há um mimo para os fãs dos Gift em português: “Verão”, tema-título, canção pop imaculada, fecha uma jornada surpreendente. Este é um disco para os fãs dos Gift de sempre, para quem valoriza os Coldplay de Ghost Stories, para quem gosta de música eletrónica, teclados, cordas, canções pop.

No Verão dos Gift faz pouco sol, mas a luz que entra merece ser acarinhada.