James Taylor, em 38 minutos, faz uma bonita demonstração daquilo que deve ser (essencialmente) esse sentimento que, independentemente do ano, da década, da época, está sempre presente. O amor.

Não consigo perceber como é que James Taylor não é mais conhecido, reconhecido – ouvido, no fundo.

O músico norte-americano é, obviamente, creditado no seio do universo musical, no entanto, parece que, por vezes, é esquecido. Claro que os «verdadeiros» não se esquecem desta personagem tão querida da cena musical norte-americana da década de 70’ mas, ainda assim, fica a pairar no ar a ideia de que Taylor não pertence àquele grupo de músicos, poderoso e talentoso, que marcaram o passo e o tempo nos anos 70’.

Duvido que James Taylor leia estas palavras. Se, por acaso, as estiver a ler, James, peço imensa desculpa. A sua música, a sua voz e a sua guitarra são peças estruturais, não só nos alicerces musicais do século passado, mas, sobretudo, na minha vida. E isso deve-se, em grande parte, ao álbum Gorilla, lançado em 1975 – mas já lá vamos a isso.

Antes de analisar o LP em questão, sinto-me obrigado a referir que a carreira de James Taylor dependeu, numa fase inicial, do aval de Paul McCartney. Sim, do baixista/vocalista dos Beatles, daquela banda nada famosa. Estávamos em 1968 e James havia viajado para Londres, (assinara  contrato com a Apple Records). Nos estúdios da companhia, James conhece, então, primeiro, Paul e, eventualmente, nos corredores da indústria, conhece George.

E agora… como é que eu digo isto? Bem… não fosse James Taylor e não havia a “Something” para ninguém. No seu álbum de estreia (James Taylor), James apresenta, na posição número seis, a faixa “Something In The Way She Moves”. Um ano depois, e depois de muitas, muitas audições, George Harrison, inspirado pela maravilha musical de Taylor, compõe e encaixa, em Abbey Road, o tema “Something”, um dos mais belos temas referentes ao amor, ao «estar-se apaixonado e devoto a uma mulher», à vida, no fundo.

Mas sobre Gorrila. Em 1975, James Taylor era já um nome forte nos ecossistemas rock-pop e rock-folk. Entre 1968 e 1975, lançara três LP’s, na altura muito bem recebidos; hoje, três clássicos (Sweet Baby JamesMud Slide Slim And The Blue Horizon e One Man Dog).

Gorilla é um projeto moderno. Apesar dos seus 44 anos, Gorilla continua a ser, hoje, um projeto moderno. O bom da modernidade – quando é «bem feita» – é que é eterna. Nem o tempo faz desabar uma peça moderna. Uma pintura «moderna» é, ainda hoje, moderna. O mesmo com um edífcio, com uma ponte, com uma cadeira ou com uma escultura.

O álbum é composto por 11 faixas que, juntas, estão connosco durante 38 minutos.

A faixa número cinco, “Gorilla”, dá, naturalmente, nome ao álbum. Aqui, como na maioria das canções do LP, estamos perante uma composição alegre, rítmica, que nos envolve numa batida apaziguante, que nada tem que ver com a crítica implícita que o autor faz, através de uma metáfora que dura a canção inteira: James está basicamente a chamar de gorila a alguém; a partir do minuto 1:50 parece até que o músico imita o animal em questão.

Mas o LP inicia-se com a faixa “Mexico”. Animada, rápida, esta é uma daquelas canções cujo propósito é obrigar o ouvinte a sorrir. É um bom começo de álbum, até porque, de uma maneira ou de outra, faz um retrato fiel daquilo que as canções seguintes serão.

De seguida, “Music”, uma ode que o músico faz, justamente, à sua religião, a Música. Leve, impossível não estar tranquilo enquanto a voz de James Taylor, abrindo os cortinados e as janelas dos nossos ouvidos, deixa entrar a luz de um bonito dia de sol.

A faixa número três é um cover de um tema de Marvin Gaye, sendo também o meu momento favorito do LP. “How Sweet It Is (To Be Loved By You)” é uma declaração de amor sincera e divertida. Durante sensivelmente três minutos, batemos o pé, construímos um sorriso com a nossa boca e acompanhamos a voz de James, que é, mais uma vez, sinónimo de «amor».

As faixas “Wandering”, “Lighthouse”, “Angry Blues” e a final “Sarah Maria” podem ser postas num grupo à parte. Apesar de assentarem na perfeição em Gorilla, estas quatro composições têm uma coisa em comum, «coisa» essa que constitui necessariamente uma diferença em relação às restantes faixas do álbum em análise: ora, as visadas são primas do country-rock, familiar tão próximo da musicalidade James Taylor. Não têm, portanto, um travo tão pop ou tão soul como as suas companheiras.

Agora estamos em plenas condições de tratar dois dos grandes momentos em Gorilla, as faixas “You Make It Easy” e “I Was A Fool To Care”. Estas duas composições são, podemos considerar, duas baladas cheias de «soul» em si.  Liricamente, dizem respeito a fases antagónicas na vida do autor. Na primeira, James Taylor ainda está sob efeito daquele amor sorridente que encontramos em “How Sweet It Is (To Be Loved By You)”; na segunda, esse amor parece que se esfumou, que desapareceu e que já não volta mais.

A voz de Taylor em Gorilla conhece o seu clímax em “You Make It Easy”. Depois desse pedaço do paraíso, mergulhamos num mar de notas de saxofone, que nos acompanham até ao final da canção. Há aqui muito «soul». James Taylor, aquele miúdo oriundo da Carolina do Norte, e que só tinha ouvidos para country-rock, tem muito «soul» dentro de si. Para além dos momentos de sopro (que dominam então a canção), o nosso sistema auditivo é capaz de identificar também vibrações de cordas. Preciosas cordas. Nesta canção, importa também referir a lírica sincera do autor que, facilmente, através de simples palavras conjugadas, consegue expressar o seu amor pela sua Mulher.

Todo esse amor desaparece rapidamente na faixa seguinte. Já agora, conheci a “I Was A Fool To Care” através de um cover fabuloso de Mac DeMarco. (Ouçam!) Como gostei tanto do trabalho de Mac, vi-me obrigado a ir ouvir a canção original. Como gostei tanto da canção original, vi-me obrigado a ir ouvir o restante álbum. E foi assim que Gorilla entrou na minha vida. Hoje somos bons amigos. (E agora tudo faz sentido. A atual sonoridade do músico canadiano muito se deve, talvez, à admiração que o mesmo nutre pelo trabalho de James Taylor. Hoje, as semelhanças são mais do que muitas. Ainda bem.)

Em jeito de finalização, Gorilla é um álbum alegre, que não larga o amor. Prova disso é a faixa 10, “Love Songs”. O LP em causa é isso, é um aglomerado, um bom aglomerado, de canções de amor, umas mais felizes do que outras.

O amor é ter tudo. E é ter nada. O amor é “You Make It Easy”, mas também é “I Was A Fool To Care”.