terça-feira, 18 de junho de 2024

10 discos essenciais: Chico Buarque

 


Francisco Buarque de Hollanda, ou simplesmente Chico Buarque, nasceu em 19 de junho de 1944, no Rio de Janeiro. Desde os primeiros anos de vida, sua paixão pela música e pela literatura se manifestava, imbuída pelo ambiente intelectual no qual foi criado, tendo o renomado historiador Sérgio Buarque de Hollanda, o seu pai, a figura central.

A trajetória artística de Chico teve início nos anos 1960, época em que despontou nos festivais de música, destacando-se como compositor e intérprete. Seu álbum inaugural, Chico Buarque de Hollanda, lançado em 1966, já antecipava seu talento singular, apresentando sucessos imortais como "A Banda" e "Carolina".

Ao longo das décadas seguintes, Chico lançou obras-primas como Construção (1971), caracterizado por uma abordagem poética e inovadora, e Meus Caros Amigos (1976), cujas canções refletiam os conturbados tempos da ditadura militar no Brasil. Durante esse período sombrio, Chico Buarque foi um dos artistas que enfrentou a censura e a perseguição do regime, sofrendo inclusive o exílio, experiência que reverberou em sua música e em sua postura crítica em relação ao governo.

Para além de sua projeção musical, Chico também se destacou com dramaturgo ao escrever peças teatrais como Roda VivaÓpera do Malandro e Gota D´Água, e como escritor, brindando-nos com romances como Estorvo (1991) e Leite Derramado (2009). Em 2019, sua eleição para a Academia Brasileira de Letras coroou sua contribuição para a literatura nacional.

Seus álbuns mais recentes, como Chico (2011) e Caravanas (2017), preservam a excelência e a relevância que marcaram sua trajetória, evidenciando sua capacidade de se reinventar ao longo do tempo. Além disso, Chico Buarque sempre se notabilizou pelo engajamento político e social, participando ativamente de movimentos em prol dos direitos humanos e da democracia.

Com uma carreira que abarca mais de cinco décadas, Chico Buarque legou à cultura brasileira um legado inestimável, sendo aclamado como um dos maiores artistas do país e um ícone da música, da literatura e da resistência política. Suas canções continuam a emocionar e inspirar gerações, consolidando-se como parte indissociável da identidade cultural do Brasil.

Chico Buarque de Hollanda (RGE, 1966). O álbum "Chico Buarque de Hollanda" foi lançado em 1966 após o sucesso do cantor em festivais de música. Composto por 12 músicas escritas exclusivamente por Chico Buarque, incluindo "A Banda", o disco reflete os três primeiros anos de sua carreira, caracterizados pelo domínio do samba. Canções como "A Rita" e "Juca" são de 1965, enquanto outras como "Ela e sua janela", "Você não ouviu" e "Amanhã, ninguém sabe" foram compostas ao longo de 1966, ano em que Chico Buarque alcançou grande popularidade no Brasil.



Chico Buarque de Hollanda – Volume 3 (RGE, 1968). Quarto álbum de Chico Buarque, Chico Buarque de Hollanda – Volume 3 traz composições icônicas como "Retrato em Branco e Preto" e "Funeral de Um Lavrador". O lado A é elogiado pela excelência, enquanto o lado B apresenta sambas menos cativantes. "Roda Viva" marca uma mudança temática, com letras mais engajadas. Apesar da aversão de Chico a "Carolina", a música alcançou grande sucesso. O álbum reflete a evolução artística do músico, consolidando-o como um dos grandes nomes da música brasileira.


Construção (Philips, 1971). Construção marca o retorno de Chico Buarque ao Brasil depois de dois anos no exílio na Itália por conta do regime militar ditatorial no Brasil. O álbum foi lançado durante a gestão do presidente Emílio Garrastazu Médici, o período mais sombrio e implacável da ditadura militar. Contudo, Chico Buarque se mostrava mais desafiador ao regime ditatorial através de seus discos, expondo as suas críticas ao momento político do Brasil daquela época através de canções carregadas de metáforas para assim driblar a Censura Federal como em "Deus Lhe Pague" e "Cordão", faixas do álbum Construção. A faixa que dá título ao álbum possui um arranjo instrumental fantástico e retrata de maneira espetacular a trágica história de um operário da construção civil que morre ao despencar da obra do prédio que estava construindo.


MeusCaros Amigos (Philips, 1976). O álbum Meus Caros Amigos representa uma espécie de comunhão das ações do cantor nas áreas da música, do cinema e do teatro naquele momento. Lançado em 1976, em pleno governo do presidente militar Ernesto Geisel, Meus Caros Amigos traz canções compostas por Chico para o cinema como “O Que Será (A Flor Da Terra)” para o filme Dona Flor E Seus Dois Maridos, “Vai trabalhar Vagabundo” (para o filme homônimo), “Passaredo” e “A Noiva Da cidade” para o filme A Noiva Da Cidade; e para o teatro, “Mulheres De Atenas” para a peça Lisa, a Mulher Libertadora, e “Basta Um dia” para a peça Gota D’Água.


Chico Buarque (Philips, 1978). Este álbum marcou uma fase significativa na carreira de Chico Buarque. Embalado pela liberação por parte da censura das canções "Cálice"(com a participação especial de Milton Nascimento) e "Apesar de Você" que se destacaram como manifestos de resistência à ditadura militar, o disco alcançou um grande sucesso comercial. E com razão, pois o álbum não se limita apenas a essas pérolas; inclui também outras joias como "Feijoada Completa", "Pedaço de Mim" (em dueto com Zizi Possi) e "Trocando em Miúdos". As vendas do álbum alcançaram a marca impressionante de 700 mil cópias vendidas até 1980, consolidando-se como o mais vendido na discografia de Chico Buarque.


Vida (Philips, 1980). Com 11 faixas autorais, o disco não só revisita sucessos como "Bastidores" e "Morena de Angola" (originalmente gravadas por Cristina Buarque e Clara Nunes, respectivamente), mas também destaca a versatilidade Chico Buarque como compositor ao abordar temas que vão do amor entre mulheres em "Mar e lua" até questões sociais em "Não Sonho Mais". Vida brinda o ouvinte com duas canções memoráveis compostas por Chico para filmes, "Bye Bye, Brasil" (do filme Bye Bye Brasil, de Cacá Diegues) e "Eu Te Amo" (do filme Eu Te Amo, de Arnaldo Jabor).



Almanaque (Ariola, 1981). Décimo álbum de estúdio de Chico Buarque, Almanaque apresenta uma combinação única de letras à beira do nonsense, músicas românticas e realistas, e uma forte crítica social e política. Destacam-se faixas como "As Vitrines", "O meu guri" e "Angélica", esta última uma das mais contundentes composições contra a ditadura militar no Brasil, em homenagem a Zuzu Angel e seu filho Stuart. Coma mais de 400 mil cópias vendidas, Almanaque permanece como um marco na carreira de Chico Buarque, refletindo a complexidade da sociedade brasileira da época e sua genialidade como compositor e intérprete.


Chico Buarque (Barclay/Philips, 1984). Neste álbum, Chico Buarque apresenta uma variedade de temas e uma mistura entre graciosidade e seriedade. Apesar de alguns críticos apontarem sinais de fadiga criativa, o disco ainda exibe a genialidade do artista, com destaque para músicas como "Pelas Tabelas", "Samba do Grande Amor" e "Vai Passar". A obra reflete a modernidade dos estúdios brasileiros da época e a sintonia de Chico com o contexto político das Diretas Já, mostrando sua capacidade de adaptação e reinvenção.



Paratodos (RCA, 1993). Após três anos afastado da música para dedicar-se à literatura, Chico Buarque retomou à sua carreira musical com o disco Paratodos, em 1993. O álbum traz em sua capa fotos de fichamento policial de Chico, remetendo à sua juventude tumultuada. As faixas abrangem uma variedade de temas e estilos, desde homenagens aos grandes nomes da música brasileira na faixa-título até reflexões sobre a vida e o amor. Destaca-se a canção "Futuros Amantes", que se tornou emblemática nas turnês de Chico. O álbum também inclui colaborações, como o dueto com Gal Costa na animada "Biscate" e "Piano Mangueira", uma parceria de Chico Buarque e Tom Jobim em homenagem à escola de samba Mangueira. Paratodos foi seguido por uma bem-sucedida turnê nacional em 1994.

Caravanas (Biscoito Fino, 2017). 38º álbum de estúdio de Chico Buarque, lançado em 2017 e elogiado pela crítica. Apesar de uma controvérsia em torno da música "Tua Cantiga", o álbum conquistou reconhecimento, apresentando tanto músicas inéditas como regravações. Destaca-se pela modernidade, reflexões sobre a vida cotidiana e o panorama político brasileiro, além de clássicos instantâneos como "As Caravanas" e "Jogo de Bola". Mesmo em um cenário desafiador para a MPB, "Caravanas" se destaca como uma obra-prima, demonstrando a habilidade de Chico Buarque em transmitir profundidade com poucas palavras.




"A Banda" (duas versões: com 
Chico Buarque e Nara Leão, ambas no 
II Festival da Record, 1966)

"Roda Viva" (Chico Buarque e MPB 4
III Festival da Record, 1967)


"Construção" (video com letra)


"Mulheres de Atenas" 
(Chico Buarque e orquestra,
sem data)

"Cálice" (Chico Buarque e Milton 
Nascimento no Chico Buarque Especial
TV Bandeirantes, 1978)

"Bye Bye Brasil" (vídeo com cenas do 
filme Bye Bye Brasil, de Cacá Digues)

"O Meu Guri" (vídeo com letra)

"Vai Passar" (videoclipe oficial)

"Paratodos" (videoclipe oficial)


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