domingo, 23 de junho de 2024

“Quem Me Levará Sou Eu” (RCA,1980), Dominguinhos

 


José Domingos de Morais, ou como o mundo o conhecia, Dominguinhos (1941-2013), foi uma peça fundamental na construção do que se pode chamar de tríade sagrada da sanfona nordestina, ao lado de Luiz Gonzaga (1912-1989) e Sivuca (1930-2006). Seus acordes não só moldaram gerações de sanfoneiros, mas também delinearam um padrão único de tocar acordeom no Brasil, rivalizando até mesmo com a escola gaúcha.

Apesar de ser um dos principais expoentes do forró, Dominguinhos foi muito além desse gênero. Sua música era uma mescla de influências que transitavam do choro ao jazz, do blues ao forró tradicional. Essa versatilidade o tornou um músico requisitado, tanto em turnês quanto em estúdios de gravação, acompanhando uma gama diversificada de artistas, incluindo Gilberto Gil, Gal Costa (1945-2022), Elba Ramalho, Maria Bethânia, Chico Buarque e Roberto Carlos.

Todo esse caldeirão musical transbordou em seus discos, e um exemplo marcante é Quem Me Levará Sou Eu, lançado em 1980, que marcou a sua estreia na gravadora RCA, após uma longa trajetória pela Fontana.

Composto por 12 faixas que passam pelo xote, baião, marchinha junina, choro e até bolero, Quem Me Levará Sou Eu conta com participações especiais de Gilberto Gil e Luiz Gonzaga. Além de faixas cantadas, o álbum traz faixas instrumentais que são uma oportunidade do ouvinte conferir a capacidade de Dominguinhos como músico.

O álbum abre com “Abri A Porta”, que traz Dominguinhos em dueto com Gilberto Gil. Embora composta por ambos, a canção foi gravada pela primeira vez pela banda A Cor do Som, em 1979. Porém, enquanto a versão da banda é uma linda balada pop romântica, a versão de “Abri A Porta” presente em Quem Me Levará Sou Eu é um irresistível e sedutor xote. Na letra, o eu lírico, ao abrir uma porta, encontra uma mulher com um lindo sorriso estampado no rosto, no qual o homem vê que o bom da vida prosseguirá.

Após a faixa instrumental “Forró em Rolândia”, vem o forró romântico “Fulô de Araçá”, que expressa a decepção e frustração de um homem apaixonado que, após caminhar por léguas montado no seu cavalo, não consegue encontrar a mulher que ele tanto ama ao chegar ao seu destino. Ele descobre que seu grande amor foi embora sem esperá-lo, o que o faz amargar uma profunda tristeza.

Na sequência, mais uma faixa instrumental, a animada e divertida “Te Cuida Jacaré”. A animação prossegue com “Sete Meninas”, que trata sobre uma festa animada num sábado à noite regada a muito forró, onde o eu lírico se vê encantado com a presença de sete garotas, donas de uma beleza e graciosidade sedutoras.

O primeiro lado do álbum Quem Me Levará Sou Eu termina com “Tudo É São João”, uma típica marchinha junina, de versos simples e singelos sobre um homem apaixonado que deseja passar a noite numa festa de São João ao lado da mulher amada, uma “linda loira e cintilante”, de olhos que parecem “duas fogueiras” que o fazem arder de paixão.

“Quando Chega o Verão” abre o segundo lado do disco, um xote em que Dominguinhos conta com a participação especial de ninguém menos que seu mestre, Luiz Gonzaga. De autoria de Dominguinhos e Abel Silva, “Quando Chega O Verão” trata sobre a inquietação que a chegada do verão pode trazer para o coração das pessoas, sugerindo que tanto quem ama quanto quem não ama, acabam sofrendo. Para ilustrar esse sofrimento, a letra faz analogia ao canário, que muda de penas para retratar a transformação da dor de amor.

“Chorinho Pra Guadalupe” é uma faixa instrumental composta por Dominguinhos, um choro dedicado por ele à sua então esposa Guadalupe Mendonça, que mostra que o músico pernambucano não se limitava apenas ao forró.

A próxima faixa é “Quem Me Levará Sou Eu”, uma linda canção, porém dotada de melancolia nos seus versos e na sua linha melódica. Composta por Manduka e Dominguinhos, essa canção foi inscrita no Festival 79 de Música Popular, promovido pela TV Tupi, defendida pelo cantor Raimundo Fagner e que alcançou o primeiro lugar.

Na sequência, mais uma faixa instrumental, a alegre e animada “Homenagem A Mestre Chicão”, seguida pelo xote “O Cortador de Cana”, que versa sobre a dura rotina de um cortador de cana. O álbum termina com outra faixa instrumental, “Cabaré de Bandido”.

Dominguinhos deixou um legado amplo e diversificado na música brasileira, destacando-se pela sua notável versatilidade em transitar por uma ampla gama de estilos musicais. Sua habilidade em inovar e incorporar elementos diversos em suas composições o consagrou como uma figura central na cena musical do Brasil. O álbum Quem Me Levará Sou Eu é um reflexo fiel dessa diversidade e brilhantismo artístico, mantendo viva as tradições musicais e deixando uma marca indelével na cultura musical do país, continuando a inspirar músicos e apreciadores da música em todo o mundo.

Faixas

Lado 1

  1. “Abri A Porta” (Gilberto Gil – Dominguinhos)
  2. “Forró Em Rolândia” (Dominguinhos)
  3. “Fulô De Aracá (Dominguinhos – Guadalupe)
  4. “Te Cuida Jacaré” (Dominguinhos)
  5. "Sete Meninas” (Toinho – Dominguinhos)
  6. “Tudo É São João” (Dominguinhos – Guadalupe) 

Lado 2

  1. “Quando Chega O Verão” (Dominguinhos – Abel Silva)
  2. “Chorinho Pra Guadalupe” (Dominguinhos)
  3. “Quem Me Levará Sou Eu” (Manduka – Dominguinhos)
  4. “Homenagem A Mestre Chicão” (Dominguinhos)
  5. “O Cortador De Cana” (Dominguinhos – Tarcisio Acioli)
  6. “Cabaré De Bandido” (Dominguinhos)

 


“Abri A Porta”

“Forró Em Rolândia”

“Fulô De Araçá"

“Te Cuida Jacaré”

"Sete Meninas”

“Tudo É São João”

“Quando Chega O Verão”

“Chorinho Pra Guadalupe”

“Quem Me Levará Sou Eu”

“Homenagem A Mestre Chicão”

“O Cortador De Cana”

“Cabaré De Bandido”


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