quarta-feira, 26 de junho de 2024

SAMURAI - Samurai (1970/ Metronome)

 

Uma banda que pode ser considerada tanto japonesa quanto britânica. Não deve ser confundido com o ex-The Web. Estou mais inclinado para o Japão. Considerando que seu líder, Mickey Curtis, de pais ingleses, nasceu em Tóquio. E essa metade do grupo é oriental. 



Curtis começou como cantor de rock'n'roll japonês, na década de 60. Depois formou o The Samurais, no mesmo estilo. Para evoluir em direção ao heavy psych & prog, com o tempo. A estreia autointitulada, (também conhecida como "Green Tea"), foi formada pelo próprio Miki Curtis (vocal, flauta), Tetsu Yamauchi (baixista, mais tarde em Free) e Yuji Harada (bateria). Estes do lado japonês. A banda britânica era formada por Joe Dunner (guitarra, koto) e John Redfern (órgão). O produtor Mike Walker ajudou com os controles (do Tangerine Studio de Londres), voz e piano. Sendo convidado para tocar harpa de boca (gaita), outro velho conhecido, Graham Smith (String Driven Thing, VDGG).

O álbum era duplo, mais uma peça bacana desse Samurai que desafiava a todos com sua vasta gama de discos. Músicas longas e sinuosas cheias de passagens psicodélicas e cavernas progressivas. Não muito longe do que cozinhavam nos quartéis de Brain ou Ohr.

Assim, "Four Seasons" (9'46) prende você desde o primeiro segundo, com um hard prog à la Warm Dust com Hammond determinado e corrosão elétrica krautie.  Ainda é percebido com mais força pelo tom “chapado” do cantor solo. As improvisações no meio da música se transformam em percussão inteligente e escuridão do teclado. Até que se resolvem em algo com um fluxo semelhante ao Beggar's Opera ou Julian's Treatment, explodindo em um primeiro Uriah Heep. Um cartão de visita excepcional.

"18th Century" (0'57) é um delicado devaneio barroco com flauta, glockenspiel e acústica. 

Eles retornam à Terra com "Eagle's Eye" (5'47), que poderia estar em "Shades of" do Deep Purple ou em um álbum do Warhorse. Com excelente guitarra wah wah e equilíbrio matemático entre hard, psych e prog. Instrumentalmente exuberante. 

Segundo lado com "Intermediate Stages" (7'35) numa vibe psicoccult não muito longe de Black Widow ou mesmo Iron Butterfly. As mudanças acontecem sem descanso. Eles se transformam em vários estados de humor de fascinante bipolaridade. Na linha de Arthur Brown em Kingdom Come. A tensão teatral (e sexual) totalmente resolvida com um final esquizofrênico, esperado, por outro lado. E o Tetsu se divertindo muito nas quatro cordas. Avant-kraut na terra de ninguém.  O koto nos lembra de suas origens, e "Boy with a Gun" (5'25) é como encenar o Kabuki Theatre em termos de dark folk britânico. A mistura resulta, beirando os momentos “In the Court”. Magia e mística tangíveis. 

"Daffy Drake" fecha (2'37) entre The Nice e Mothers of Invention... Bobagem de taverna que produz uma ressaca só de ouvir.

Mudança de álbum e para o lado C temos apenas "Five Tone Blues" (14'56).  Uma brutalidade psicológica pesada comparável a Out of Focus, McChurch Soundroom, Necronomicon, Kin Ping Meh ou Niagara. Parece alemão, livre, anarco e sem limites. Como qualquer grande disco de kraut que se preze.

Lado D final com "Green Tea" (5'31) e "Mandalay" (6'28). O primeiro evocando alguns psicotrópicos Atomic Rooster/Nektar/Battered Ornaments. O segundo como um enxerto estúpido de Agitation Free, Herbie Mann, Master of Deceit e Ultimate Spinach. O resultado global é, para 1970, um trabalho imenso. 

Isso cresceu ainda mais com o próximo passo em 1971, "Kappa" (já gravado no Japão). Outro monstro que não deveria ser despertado sem estar preparado.



Samurai tem o problema do deslocamento. Não aparece nas listas dos melhores japoneses, nem nas dos britânicos. Mas, para ser justo, deveria estar em ambos. Como eu disse, muita genialidade na terra de ninguém.



Temas
Four Seasons 9:46
18Th Century 0:57
Eagle's Eye 5:47
Intermediate Stages 7:35
Boy With A Gun 5:25
Daffy Drake 2:37
Five Tone Blues 14:56
Green Tea 5:31
Mandalay 6:28

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