A 2 de fevereiro de 1964 os estúdios do Lumiar, em Lisboa acolhiam a primeira edição do Grande Prémio TV da Canção Portuguesa, designação que então tomou (nesse e anos seguintes) o concurso que hoje conhecemos como Festival da Canção. Uma orquestra, dirigida por Tavares Belo, ocupava parte significativa do estúdio que albergava ainda espaço para dois grandes telefones (daqueles de parede, os velhos PBX) e um espaço cénico onde ora estavam os apresentadores (Henrique Mendes e Maria Helena Fialho Gouveia) e os concorrentes. E entre estes, apesar da presença do cantor lírico Guilherme Kjölner, eram sobretudo vozes nascidas no Centro de Preparação de Artistas da Emissora Nacional. Ou seja, o Festival da Canção nasceu com vozes vindas da rádio.
Se a vitória sorriu à “Oração” de António Calvário, entre o leque de nomes a concurso encontrávamos ainda figuras já com relevância no panorama da edição discográfica como Artur Garcia, Gina Maria, Madalena Iglésias e Simone de Oliveira. Cada qual apresentava duas canções no desfile das 12 concorrentes. E a Simone de Oliveira coube interpretar “Olhos nos Olhos” e “Amar é Ressurgir”, esta segunda tendo terminado a noite em oitavo lugar, com apenas dois pontos, acabando por não conhecer depois edição discográfica.
Por seu lado “Olhos Nos Olhos”, classificada em terceiro lugar (cabendo a Guilherme Kjölner o segundo com “Lindo Par”), seria pouco depois uma das quatro canções que Simone de Oliveira gravaria num EP que representaria a sua estreia na Valentim de Carvalho, segunda etapa num percurso discográfico iniciado em 1958 na Alvorada.
Com música de Carlos Canelhas e letra de António Antão, gravada em disco com a companhia de uma orquestra dirigida por Jorge Costa Pinto, “Olhos Nos Olhos” iniciava um percurso de Simone de Oliveira no Festival da Canção que lhe daria vitórias marcantes em 1965 (“Sol de Inverno”) e 1969 (“Desfolhada”), e outros momentos de grande destaque, um deles em 1973 com “Apenas o Meu Povo”, a canção com que assinalou o seu regresso após um hiato causado por um prolema nas cordas vocais que a obrigou a um silêncio forçado. A sua mais recente participação no concurso data de 2015. Em 2018 o Festival da Canção prestou-lhe uma homenagem durante a final, realizada em Guimarães.
Além de “Olhos Nos Olhos”, o EP de estreia de Simone de Oliveira na Valentim de Carvalho – através da etiqueta Decca – incluía ainda duas canções de Jerónimo Bragança e Nóbrega e Sousa – “Maria Solidão” e “Deixa Lá” – e ainda uma leitura nova do “Fado da Severa”.
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