quarta-feira, 10 de julho de 2024

Adrianne Lenker – abysskiss (2018)

 

Uma preciosidade de disco, para deixar a tranquilidade tornar-se o rainha e senhora do nosso corpo enquanto o discorremos.

Ninguém diria que isto é um disco de estreia de uma rapariga de 27 anos, pela maturidade que demonstra, pela capacidade de nos envolver. Pois, é que, na verdade, não o é – Lenker já leva nas costas uns quantos anos com a música dentro dela, a querer explodir cá para fora. A mesma maturidade que mostra agora, já a tinha aos 13 anos, quando o pai Lenker, músico de cartilha, queria dela fazer uma cantora pop e Adrianne recusou a alimentar a coisa. Mas a experiência de fazer músicas, cantar e tocar em noites de open mic em bares Estados Unidos fora, lá ficou e a garota soube aproveitar tudo isso para conseguir uma bolsa em Berklee, uma das mais prestigiadas escolas de música norte-americana e assim seguir o seu sonho. Logo após terminar o curso conheceu Buck Meek, em Nova Iorque, e assim nasceram os Big Thief, banda que nos visitou em Coura este ano. Mas Adrianne quis algo mais, e daí aparecer agora em nome próprio, com este docinho abysskiss.

É um disco que se ouve de uma penada. A bem dizer, não é bem ouvir, é mais um rebuçado que se vai derretendo na boca, e que nos mantém entretidos durante 33 minutos, enquanto fazemos outras coisas, sem nos apercebermos do adocicar de boca que vamos ganhando. Chega ao fim e a necessidade de novo rebuçado é premente, voltemos portanto a carregar no play e degustemos novamente este mundo que nos criou Lenker com a sua voz e guitarra. Mundo onde se fala de vida e morte, de infância e idade adulta, das vivências próprias, de religião, da relação dos humanos com a natureza. Mundo que parece saboroso e tranquilo, mas que após uma audições se transforma num crescente desconforto, qual biblioteca cheia de livros mas depois vai-se ver melhor e são só capas para encher prateleiras – é assim que Lenker nos quer mostrar que é mais uma questionadora do que a rodeia, com poucas certezas sobre quem ser e como encaixar no meio que a (nos) rodeia.

Desde que escreveu a sua primeira música, aos 8 anos, Adrianne Lenker soube incorporar em si, no seu dedilhar de cordas e voz suave, na sua arte de fazer música, excelentes influências – a própria cita Elliot Smith, Iron & Wine, mas nós tomamos a liberdade de ir até uma Joni Mitchell para melhor situar quem nos lê. Venham connosco descobrir este excelente abysskiss.



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