Em Wanderer, o décimo disco de Cat Power e o primeiro em seis anos, tudo é letras e sentimento e tudo é simplicidade sonora mas complexidade emocional.

Cat Power canta com o coração. Todas as palavras contam mil histórias além da história real, entre a canção e a declamação, numa voz de uma delicadeza que se agarra à pele e aos ouvidos, entre os arranjos simples porque, verdade seja dita, não é preciso mais a não ser o poder da voz.

Wanderer é o primeiro disco em seis anos e Chan Marshall, ou Cat Power, relembra-nos porque é que é uma das cantautoras mais reconhecidas da música contemporânea, trazendo-nos o seu modo muito peculiar de escrever canções – densas nas letras, simples na produção, cheias na voz.

A abrir este trabalho, o décimo da sua carreira – solitária, ela e a guitarra, embora, por vezes, admita colaborações, como a que tem no single e na melhor faixa de Wanderer – está a canção que dá nome ao álbum, um tema quase religioso, como se estivéssemos numa missa, na letra e nos coros. Segue-se “In Your Face” e “You Get”, onde Cat Power verdadeiramente solta o poder da palavra declamada, apenas com um ligeiro acompanhamento de percussão e de dedilhar de guitarra.

Segue-se “Woman”, na qual convida outra melancolia feminina. Lana Del Rey traz mais textura a este tema que é, sem dúvida, a melhor canção do disco, a soar a Neil Young, uma faixa soberba, que vai crescendo em intensidade e em lamento. A facilidade com que as duas vozes se unem é surpreendente e funciona melhor do que se esperaria e a produção, ligeiramente mais densa, cria um efeito de deslumbramento que apetece repetir muitas e muitas vezes.

Tal é a confiança de Cat Power que até há espaço para uma cover de “Stay” de Rihanna, no piano, uma versão excelente e em que só conhecendo bem a letra da canção original se percebe de imediato que é uma cover, já que nem sequer canta a versão toda. Destaque ainda para “Me Voy”, misturada entre inglês e espanhol, com guitarra espanhola a acompanhar e que só soa a melancolia. A fechar voltamos a “Wanderer”, desta vez “Wanderer/Exit”, onde Cat Power parece já cantar ao longe, baixinho, em jeito de despedida, exactamente como quem sai.

Tudo é letras e sentimento, neste disco, tudo é simplicidade sonora mas complexidade emocional. Em Wanderer, Cat Power é paranóica, resignada, triste, revoltada e sensual. Tudo junto em onze faixas – todas elas com algo de positivo a apontar mas, devido à simplicidade da produção, todas muito parecidas umas com as outras. Como é, aliás, habitual em Cat Power – embora, mesmo soando igual, cada álbum faz um sentido ligeiramente diferente uns dos outros.

No fim de contas este acaba por ser apenas mais um álbum da longa carreira da cantautora, não o pior mas de longe não o melhor, correndo o risco de cair rapidamente no esquecimento não fora a belíssima canção que é “Woman”.