quarta-feira, 10 de julho de 2024

POEMAS CANTADOS DE CAETANO VELOSO


Mel

Caetano Veloso


Ó abelha rainha faz de mim

Um instrumento de teu prazer

Sim, e de tua glória

Pois se é noite de completa escuridão

Provo do favo de teu mel

Cavo a direita claridade do céu

E agarro o sol com a mão

É meio-dia, é meia-noite, é toda hora

Lambe olhos, torce cabelos, feiticeira vamo-nos embora

É meio-dia, é meia-noite, faz zumzum na testa

Na janela, na fresta da telha

Pela escada, pela porta, pela estrada toda a fora

Anima de vida o seio da floresta

O amor empresta a praia deserta zumbe na orelha, concha do mar

Ó abelha, boca de mel, carmin, carnuda, vermelha

Ó abelha rainha faz de mim um instrumento do seu prazer


Menina da Ria

Caetano Veloso


Uma moça

De lá do outro lado da poça

Numa aparição transatlântica

Me encheu de elegante alegria

(Ai, Portugal, ovos moles, Aveiro)

Menina da Ria

Menina da Ria

Menina da Ria


E uma preta

(Parece que eu estou na Bahia)

Tão Linda quanto ela, dizia

No seu português lusitano:

"Pode o Caetano tirar uma foto?"

Menina da Ria

Menina da Ria

Menina da Ria


Arte Nova, um prédio art-nouveau numa margem

Em frente à marina-miragem:

Os barcos na Ria. E depois


Uma taça sobre o pubis glabro, um estudo

Nenhum descalabro se tudo

É sexo sem sexo em nós dois

Menina da Ria

Menina da Ria

Menina da Ria



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