Elomar Figueira Mello gravou seu primeiro álbum aos trinta e poucos anos, em 1972, um pouco tarde para um artista, mas no tempo ideal de maturação para um cantador. Ele nunca fez questão dos palcos, pelo contrário, sempre preferiu a pacatez da sua fazenda no semiárido baiano, tangendo caprinos e compondo sob a luz das estrelas.
Este álbum é fruto desse meio, um choque reacionário pós-tropicalista. Na contramão de outros baianos que desde os anos 1960 modernizavam a música brasileira, Elomar apresenta uma cultura popular em sua essência, pois não compõe para as massas. Sua música é reflexo da vida no sertão e seus habitantes: o jagunço, o vaqueiro, o capiau e, especialmente, o violeiro que canta versos sobre todos os anteriores.
Gravado apenas com voz e violão, ... Das Barrancas do Rio Gavião traz uma coleção de cantigas, incelenças e martelos que pintam paisagens extraídas dos livros de Guimarães Rosa, um sertão cheio de vida, com costumes e dialeto próprios, sintetizando as idiossincrasias de um povo intocado pela mão modernizadora da sociedade.
Na abertura com “O Violeiro” ele passa seu recado (“Ah, pois pro cantado e violero / Só há treis coisa nesse mundo vão / Amor, furria, viola, nunca dinheiro / Viola, furria, amor, dinheiro não”): não é cantor, é cantador.
Mas não é só. Nas próximas faixas surgem outras pérolas do seu cancioneiro. Nelas o cantador primeiro murmura tristeza e saudade, como no tema de amor fúnebre de “Incelença do Amor Retirante” e no relato do êxodo nordestino de “Retirada”, pra logo depois cantar a beleza e a alegria, como na exaltação à natureza em “Joana Flor das Alagoas”, ou na carregada de influência do trovadorismo ibérico “Cantiga do Amigo”.
...Das Barrancas do Rio Gavião é muito mais que um disco: é um manifesto de exaltação ao passado. Enquanto o Brasil dos anos 1970 seguia em direção ao futuro na constância da marcha militar, Elomar fazia o caminho contrário a passos de Conselheiro que se recusa a mudar.
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