Keith Strickland e Ricky Wilson (1953-1985) já eram amigos muito antes do surgimento do B-52’s. Tudo começou lá pelos idos de 1971, quando eram adolescentes frequentando um colégio em Athens, Georgia, nos Estados Unidos. Naquela época, Ricky já dedilhava sua guitarra e registrava algumas de suas composições em um modesto gravador de rolo. Foi durante uma visita à casa de Ricky que Keith teve seu primeiro contato com as canções do amigo. A partir desse momento, uma semente foi plantada e os dois começaram a compor e tocar juntos, dando os primeiros passos rumo ao que viria a ser o icônico B-52’s.
Mas somente numa noite de outubro de 1976, que a história do B-52’s começou a ser traçada. O cenário? Um animado bar chinês em Athens. Entre risadas e copos numa bebedeira, uma energia única pairava no ar, reunindo almas afins. Naquela farra alcoólica estavam presentes Keith Strickland, os irmãos Ricky e Cindy Wilson, mais Fred Schneider e Kate Pierson, esses dois últimos, duas figuras “forasteiras”. Fred Schneider, natural de Newark, Nova Jersey, que desembarcara em Athens em 1972 para estudar Engenharia Florestal na Universidade da Georgia; e Kate Pierson, também oriunda de Nova Jersey, mas que chegara à cidade em 1975, dedicando-se à jardinagem e à criação de cabras.
Assim surgia a lendária banda The B-52’s, composta por Fred Schneider nos vocais, Kate Pierson nos vocais, teclados e percussão, Cindy Wilson nos vocais e percussão, Ricky Wilson na guitarra e Keith Strickland na bateria. O nome da banda, um tanto peculiar, era uma referência à gíria da época que designava os extravagantes penteados "bufantes" tão em voga nos primórdios dos anos 1960. Curiosamente, esses penteados foram adotados por Kate e Cindy em suas apresentações com o B-52’s, adicionando um toque de estilo peculiar à identidade visual da banda.
O B-52’s fez a sua primeira apresentação pública aconteceu no Dia dos Namorados de 1977, em Athens. Com uma estética retrô que evocava personagens de séries de TV dos anos 1960 e uma fusão musical que misturava surf music, rockabilly e instrumentos vintage, além de um carisma e excentricidade peculiares, a banda rapidamente se tornou a sensação da cena musical de Athens.
No final de 1977, o B-52’s parte para Nova York, onde realiza sua estreia na cidade. As apresentações em casas noturnas icônicas como CBGB’s e Max’s Kansas City se tornam uma rotina nos fins de semana, marcando o início de uma nova fase para a banda. Decidindo deixar definitivamente Athens para trás, o grupo estabelece residência na vibrante metrópole nova-iorquina. Em pouco tempo, o B-52’s conquista status de banda cult no cenário alternativo de Nova York.
Em abril de 1978, o quinteto lançou seu primeiro single, "Rock Lobster", pela DB Records, um selo independente, conseguindo vender 2 mil cópias. Contudo, com o apoio dos colegas dos Talking Heads, os integrantes do B-52’s conseguiram um contrato com a gigante gravadora Warner Bros. A mesma gravadora relançou o single "Rock Lobster", agora em uma nova gravação feita pela própria banda, alcançando o TOP 40 nas paradas musicais do Reino Unido ainda no mesmo ano.
Apresentação do B-52's no Max's Kansas City, em Nova York, em maio de 1978. |
Abrindo o álbum, a faixa "Planet Claire" oferece uma introdução estelar ao universo peculiar do B-52’s. Os sintetizadores tecem uma teia sonora misteriosa, evocando o ambiente dos clássicos filmes de ficção científica dos anos 1960. É como se os ouvintes fossem transportados para uma viagem cósmica, rumo aos recantos mais estranhos do espaço sideral. "O Planeta Claire tem uma atmosfera rosa choque / Todas as árvores são vermelhas / Ninguém nunca morre lá / Ninguém tem cabeça", assim nos guia a letra, pintando um quadro surreal que captura a imaginação desde o primeiro acorde.
"52 Girls" é uma verdadeira lista de nomes de garotas de todos os tipos. A letra da música não se prende a significados profundos ou narrativas elaboradas; ao invés disso, ela se concentra no simples prazer de enumerar nomes de forma animada e irreverente, característico do estilo do The B-52's. Em "Dance This Mess Around", Cindy Wilson solta sua voz para narrar a história de uma garota perplexa pelo fato de seu amado não querer dançar com ela.
Um clássico absoluto do quinteto de Athens, "Rock Lobster" encerra o lado 1 do álbum. Com uma energia contagiante e letras absurdas, a faixa é uma explosão de criatividade. Desde seus riffs de guitarra inspirados no surf rock até seu vocal excêntrico, "Rock Lobster" encapsula perfeitamente o espírito irreverente e festivo característico do B-52's.
"Lava" abre o lado 2 do álbum, retratando a paixão de um casal com um calor tão intenso quanto a lava de um vulcão: "Meu amor está aumentando / Meu amor está em erupção como um vulcão em brasa". Essa faixa entrega uma explosão de emoção, capturando a intensidade ardente do amor de forma vibrante e cativante.
Em "There's A Moon In The Sky (Called The Moon)", o B-52’s adota um tom bem-humorado para descrever a Lua e os outros planetas do nosso sistema solar. Enquanto isso, em "Hero Worship", a banda aborda de forma irônica a idolatria e a fama, combinando um groove contagioso com letras sarcásticas. Essas faixas destacam a habilidade da banda em mesclar crítica social com sensibilidades pop, mostrando sua versatilidade e astúcia lírica.
The B-52's em 1979. Em sentido horário: Ricky Wilson, Kate Pierson, Keith Strickland, Cindy Wilson e Fred Schneider. |
Encerrando o álbum, uma reinterpretação de "Downtown", o clássico de Petula Clark de 1964, ganha vida com arranjos completamente novos pelas mãos do B-52’s, proporcionando uma reviravolta cativante e fresca à versão original.
The B-52’s, o álbum, conquistou o 59° lugar na parada da Billboard 200, vendendo cerca de 500 mil cópias inicialmente, posteriormente ultrapassando a marca de 1 milhão de unidades vendidas. Este trabalho gerou cinco singles de sucesso: "Rock Lobster", "6060-842", "Planet Claire" e "Dance This Mess Around".
O impacto do álbum de estreia dos B-52’s foi notável, trazendo uma energia revitalizante ao cenário do rock e conquistando uma legião de novos fãs. Um desses admiradores era ninguém menos que John Lennon (1940-1980). Em uma de suas últimas entrevistas antes de seu trágico falecimento em 1980, o ex-Beatle revelou sua apreciação pelo álbum de estreia dos B-52’s, elogiando calorosamente o som da banda.
Possivelmente, os elogios vindos de um ex-Beatle ao primeiro álbum de estreia do B-52’s foram um grande estímulo para a banda em seus primeiros passos na indústria fonográfica. No entanto, ao mesmo tempo, trouxeram um desafio ainda maior para o próximo trabalho: superar ou igualar a qualidade do álbum de estreia.
A sonoridade festiva e irreverente do B-52’s desempenhou um papel fundamental na difusão da new wave, que ganhava destaque na transição dos anos 1970 para os anos 1980. Enquanto a melancolia cinzenta do pós-punk britânico, liderada pelo Joy Division do outro lado do Atlântico, ganhava projeção no cenário musical europeu, o B-52’s oferecia um contraponto vibrante e otimista.
Faixas
Lado 1
- “Planet Claire” (Henry Mancini, Fred Schneider, Keith Strickland)
- “52 Girls” (Jeremy Ayers, Ricky Wilson)
- “Dance This Mess Around” (Kate Pierson, Schneider, Strickland, Cindy Wilson, R. Wilson)
- “Rock Lobster” (Schneider, R. Wilson)
Lado 2
- “Lava” (Pierson, Schneider, Strickland, C. Wilson, R. Wilson)
- “There's a Moon in the Sky” (Called the Moon) (Pierson, Schneider, Strickland, C. Wilson, R. Wilson
- “Hero Worship” (Robert Waldrop, R. Wilson)
- “6060-842” (Pierson, Schneider, Strickland, R. Wilson)
- “Downtown” (Petula Clark cover) (Tony Hatch)
The B-52’s: Fred Schneider (vocais, walkie-talkie , piano de brinquedo, baixo teclado), Kate Pierson (vocais, órgão, teclado baixo , guitarra), Cindy Wilson (vocais, bongôs , pandeiro, guitarra adicional), Ricky Wilson ( guitarras, alarme de fumaça) e Keith Strickland (bateria, percussão).
Sem comentários:
Enviar um comentário