segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Antonio Vivaldi - "As Quatro Estações" (1725)

 


"É um velho que tem prodigiosa fúria de composição.
Eu o ouvi gabar-se de compor um concerto
com todas as suas partes,
 mais rapidamente que um copista poderia copiá-lo.
Para grande surpresa minha, vi que ele não é tão estimado
como merece neste lugar onde tudo é moda,
onde há muito tempo suas obras são ouvidas
onde a música do ano anterior não serve mais como receita."
Charles de Brosses,
escritor francês do séc. XVIII
sobre Antonio Vivaldi



Poucas obras produzidas pelo homem conseguiram traduzir tão bem elementos da natureza como “As Quatro Estações”, concerto para violino, composto pelo italiano Antonio Vivaldi, em 1723. A casa Fallingwater de Frank Lloyd Wright, com sua ambição de ser pedra, as obras de Krajkberg e sua imitação orgânica, a aleatoriedade de John Cage, alguma outra que me escapa agora, talvez se aproximem dessa condição de proximidade com o natural, mas por certo nenhuma delas o conseguiu com tamanha beleza e poesia quanto este concerto barroco. Em quatro movimentos que pretendem simbolizar cada uma das estações do ano, Vivaldi, consegue transmitir de maneira mágica as sensações características de cada uma delas.
Encarte da coleção
"Mestres da Música"
da editora Abril, de 1982.
Sua “Primavera”, é colorida, gostosa, cheia de vida e de alegria; o “Verão” não é menos alegre, contudo, é, de certa forma, sufocante, com passagens mais inquietantes e nervosas dos violinos da orquestra; o “Outono” de Vivaldi, muito parecido na forma e na estrutura com a “Primavera”, parecem querer reforçar o regozijo das meias-estações onde o clima é ameno e fresco; e o “Inverno”, na leitura musical deste italiano, com seus violinos soando rascantes, ásperos, tensos em certos momentos, admite que a estação pode ser cruel, sim, forte, sacrificante muitas vezes, mas não deixa de dotar o concerto de beleza e graça, como que nos lembrando que mesmo a mais fria das estações pode ser bela como uma paisagem de serra, aconchegante como uma lareira, gostoso como um chocolate quente e divertido quanto um boneco de neve.
Uma das mais belas e celebradas obras da história da música, “As Quatro Estações”, é também uma das sinfonias mais populares e mais executadas pelo mundo afora, o que faz com que, embora não tenha sido concebida para ser álbum, logicamente, até pela época em que foi composta, venha sendo infinitamente executada por orquestras do mundo inteiro e reproduzida ao longo dos anos nos mais diversos formatos de mídia, o que lhe garante um lugar garantido nos nossos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS.
Particularmente tenho duas execuções da obra: uma em CD da Orquestra Nacional da França, regida por Lorin Maazel, e outra em LP, numa belíssima edição da Abril Cultural do início dos anos 80, executada pela Orquestra de Câmara de Salzburgo, que é a que ilustra esta postagem.
Deus pode ter criado o sol, a chuva, os ventos, a neve, mas Vivaldi explicou todos eles em música. Se você não soubesse como são, nunca tivesse visto as folhas caírem, nunca tivesse sentido um calor implacável, um vento cortante, o cheiro das flores, bastaria fechar os olhos, mergulhar na música e ouvir as sensações.



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