Esse disco eu conheci nas páginas da grande poeira Zine do jornalista Bento Araújo. Lembro que na mesma semana em que eu li sobre esta obscura banda, cujo único trabalho era, teoricamente, difícil de ser encontrado por ser de um grupo que praticamente ninguém conhecia, eu dei de cara com a versão em CD em uma lojinha igualmente obscura dentro de uma galeria no centro de Curitiba. Coincidência? Seja como for, não pensei duas vezes e comprei na hora - pois além de tudo estava com um preço bem atrativo. Comprei e ... nem escutei. Esqueci dentro da minha mochila e só coloquei para ouvir um mês depois. Tão logo me dei conta do que havia comprado, corri para a loja para ver se tinha mais discos raros como este - e descobri que o local fechou suas portas uma semana antes. Era para eu ter Titus Groan e pronto!
Vamos ao que interessa então.
O nome da banda inglesa foi tirado do personagem principal do primeiro livro da série Gormenghast de Mervyn Peake e combina com este primeiro e único trabalho da banda: um som pesado e progressivo ao mesmo tempo. Formada por Stuart Cowell (voz, guitarras, órgão, piano), Tony Priestland (sopros incluindo sax, flauta e oboé), John Lee (baixo) e Jim Toomey (bateria e percussão), fica claro logo de início que o quarteto era extremamente entrosado e sabia o que fazer com seus instrumentos - principalmente o Hammond e o inusitado oboé, um instrumento erudito nada comum até mesmo para bandas de rock progressivo da época.
E a influência jazzística logo se percebe com "It Wasn't For You", uma peça atraente e que dá as boas vindas aos ouvintes. "Hall of Bright Carvings" é maravilhosa com seus quase doze minutos de mudanças rítmicas, solos de oboé e peso - tudo na medida certa. Em vários momentos quem dá as cartas é John Lee, mostrando que assumir as quatro cordas de uma banda é para quem sabe dedilhar com técnica e sentimentos. Uma canção progressiva ao extremo, com momentos relaxantes, partes com ares medievais e trechos mais nervosos. A maior canção do disco é, arrisco aqui, a melhor de todo o trabalho.
A suavidade de "I Can't Change" só é possível pela flauta rápida e deslizante que marca presença logo no começo e que segue por toda a canção sentimental e climática. Do nada a melodia se torna dissonante, complexa e intrincada - bem ao estilo que agrada aos fãs de outra grande banda, o Gentle Giant. Depois deste momento de loucura, o grupo regressa com um estilo mais pop e a canção segue variando até o seu final. E enquanto toda essas variações correm solta a flauta de Cowell fluindo por trás da parede sonora. Genial é pouco!
"It's All Up With Us" é a balada do disco e traz um clima calcado nos anos 1960, comandada brilhantemente pelas linhas de baixo e pelo sax inspirado de Cowell - que , aliás, também faz um solo de guitarra daqueles na medida. Outra pérola que fica grudada na cabeça de quem a escuta.
O disco termina com um festival de bom gosto na pesada "Fuschia". Guitarras de tudo que é tipo, incluindo wha-wha, flautas disputando pau a pau com a distorção da seis cordas, percussão e bateria certeiras ajudam a compor este cenário musical fantástico, com solos melódicos e emblemáticos.
Este foi infelizmente o único álbum do Titus Groan, que acabou não indo adiante após shows desastrosos em termos de infraestrutura, frutos de uma péssima divulgação de seu trabalho à época pela gravadora. Porém existem reedições deste disco que trazem como bônus três canções que a banda lançou como single ("Liverpool", "Woman of the World" e uma composição de Bob Dylan conhecida como "Open the Door, Richard", que aqui virou "Open the Door, Homer"), igualmente bacanas de se ouvir e que servem de testemunho do que o Titus Groan poderia fazer se tivesse sido tratado de maneira mais séria e profissional pela gravadora Dawn Records e pela produtora de shows da época, a Red Bus Company.
Se tivesse que escolher apenas uma música deste disco? Eu não teria dúvida alguma em ficar com a abertura, "It Wasn't For You". E você?
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