O que é grande em KOD não são as palavras mas a cadência com que são ditas: o balanço incrível do seu rap, gingando como uma banda de funk. Cole poderia até “rappar” em mandarim. Bambolearíamos na mesma, enlaçados no seu ritmo.

J. Cole, o maior rapper da sua geração… a seguir a Kendrick Lamar. É lixado ser o eterno número 2. Mas Cole tem uma vantagem: mandou a indústria musical para a senhora que a pariu; é um homem livre. Isso traduz-se em consistência criativa. KOD, o quinto disco do mestre Cole, é bom do princípio ao fim. Não tem, lá pelo meio, nenhum dueto meloso com as mamas da Rhianna…

De onde vem a força de KOD? Da poesia? Não cremos. Cole sabe driblar as palavras, é certo, mas há um excesso de pregação que irrita: não te drogarás, não venerarás o deus-dinheiro, não fornicarás a mulher alheia, blá, blá, blá… O que é grande em KOD não são as palavras mas a cadência com que são ditas: o balanço incrível do seu rap, gingando como uma banda de funk. Cole poderia até “rappar” em mandarim. Bambolearíamos na mesma, enlaçados no seu ritmo.

As batidas, produzidas pelo próprio Cole, são graciosamente simples, para não distrair o ouvinte do essencial: o baloiçar do seu rap. O estilo dominante é o claustrofóbico trap, com o bombo 808 a fazer rebentar as colunas subwoofer. Ora o trap está tradicionalmente associado a uma certa bazófia gangsta (“bitches”, “dealers”, “big guns”, “big cars”, “uga!-uga!”). Num truque roubado ao seu amigo Lamar (“Dna”, “Humble”),  Cole subverte o trap, dizendo o contrário. Quando visto sob esta perspectiva (servir de contrapeso à boçalidade do pós-gangsta rap), o moralismo de KOD surge bem mais simpático…