Big Red Machine é um álbum que se estranha nas primeiras audições e que precisa de auscultadores, de atenção a cada nuance para conseguimos sentir, no meio de tanta melancolia, pequenas coisas felizes.

Fruto do trabalho de Justin Vernon (Bon Iver) e Aaron Dessner (The National), o disco Big Red Machine, a versão mais visível do projeto online People, tinha tudo para correr bem. Os mentores do projeto já tinham colaborado numa faixa na compilação “Dark Was The Night” (2009). Esse tema chamava-se precisamente “Big Red Machine”. Agora, convidaram para esta nova incursão outros artistas, como Phoebe Bridgers, This Is the Kit e membros dos Arcade Fire.

Na primeira audição, este trabalho soa-nos, sobretudo, a Bon Iver, no seu último disco, 22, A Million, começando logo pelo tema de abertura, “Deep Green” mas também em “Hymnostic” ou “I Won’t Run From It” (faixa incrível, de uma delicada beleza) ou ainda em “People Lullaby”, onde o falsete e o piano de For Emma, Forever Ago, impera.

Os arranjos, os momentos de falsete, raros mas presentes, com a voz de Vernon (mais ao estilo do que fez em Volcano Choir). Mas, quando ouvimos com mais atenção, encontramos os arranjos de Dessner, alguns ecos de The National, muito pouco, discreto, mas enchendo o disco, como em “Gratitude” ou “Forrest Green”, outro grande momento do disco, lento, melancólico, preguiçoso, com o famoso auto-tune de Vernon.

Este é um disco denso em arranjos, onde os vários instrumentos se misturam com a componente eletrónica e os temas vão crescendo devagarinho, com distorções, com crescendos ligeiros, sem a epicidade quer de Bon Iver quer de The National mas com consistência. “Lyla” é quase funk, com uns ecos de James Brown, mas com a eletrónica sempre presente mas pontilhada com a voz de Verner e um violino ligeiro, o resultado de uma amálgama entre o melhor dos dois mundos – mas sem conseguir provocar arrepio.

O maior defeito desta colaboração é ter, efetivamente, grandes nomes a trabalhar nela. Fica a sensação de perda de identidade, ou de colagem das várias identidades para criar um disco, sem conseguir formar-se uma identidade própria e criando, por vezes, demasiada confusão.

Mesmo sendo um trabalho interessante, conceptual, bem produzido, o que é certo é que, às primeiras audições, quer os fãs de Vernon quer os fãs de Dessner – e, sobretudo, os fãs dos dois – vão ficar desiludidos.  É um álbum que se estranha nas primeiras audições para depois se começar a gostar, para se começar a descascar as diferentes camadas e a sentirmo-nos tocados por ele.

Para ouvir de auscultadores, prestar atenção a cada nuance, a cada requebro de voz de Vernon ou de mudança de instrumento ou batida orquestrada por Dessner, conseguimos sentir, no meio de tanta melancolia, pequenas coisas felizes.