Num salto de gigante, Filipe Sambado inscreve o seu nome na mais alta categoria de compositores e intérpretes. Um disco essencial em 2018.

Agora que o músico apresentou um vídeo para “Alargar O Passo” e anunciou que ia parar a promoção deste disco para começar a preparar um novo trabalho, vamos lá falar deste disco incrível.

É difícil escolher por onde pegar neste segundo trabalho de Filipe Sambado. Produtor de créditos firmados, chega ao (maior) reconhecimento do público com Vida Salgada (2016), e revela-se ao melhor nível em Filipe Sambado & Os Acompanhantes de Luxo.

Difícil porque na verdade tudo é bom. Composições e letras brilhantes e o tema da discriminação, sexismo e objetificação, que atravessa todo o álbum, é pertinente e bem trabalhado. De alto gabarito são também os acompanhantes, Alexandre Rendeiro (Alek Rein, Sun Blossoms), Manuel Lourenço (Primeira Dama, Migas), Adriano Fernandes (C de Crochê) e Luís Barros que, fazendo jus ao nome, acompanham Sambado nesta viagem musical.

Enquanto álbum, num todo, as músicas fluem e evitam o eco excessivo nas vozes presente em alguns trabalhos anteriores, como “Vida Salgada”. Opção estilística de Sambado que – talvez por falta de confiança no instrumento vocal – afogava as vozes num mar de sonoridades e tirava um pouco do brilho às letras. Ainda se nota algo disso em “Mentol” e especialmente em “Onda” mas regra geral, neste álbum as letras e a voz de Sambado tomam o centro do palco.

As composições são frescas e bem dispostas, desde o toque tradicional a atirar à música de intervenção de 1975 em “Dá Jeitinho”, que na verdade é mesmo música de intervenção em 2018 e marca o tom do disco, sem medo de se afirmar e encontrar o seu lugar na sociedade.

Um dos melhores exemplos disso é “Deixem Lá”, primeiro single deste álbum, que podia já ser eleito um hino de uma geração sem pudores e medos de se afirmar como é.

Em “É Tu”, a entrada da música é inesperada, algo conceptual e tudo de bom que isso traz, com ajuda deste elenco de luxo que brilha em conjunto sem perder a identidade de cada um, desde os teclados de Primeira Dama à guitarra de Alek Rein. Já na música “Em Paz”, ao estilo de valsa, oitava de dez canções, começam a faltar adjectivos que façam transparecer o bom que este disco é. Devia-se fazer já audição obrigatória nas escolas, para que nunca mais se oiçam barbaridades sobre a qualidade da música nacional.

Um disco para ouvir do início ao fim e presença obrigatória nas listas de melhores do ano, de unhas e lábios pintados ou como quisermos, que ninguém tem nada a ver com isso. “Beijinhos ou bye bye”