Dirt é o melhor disco da carreira dos Alice in Chains, e um dos mais fortes trabalhos não só da cena de Seattle mas de toda a década de 90.

1991 foi o ano em que, efectivamente, tudo mudou, graças à explosão nacional e mundial de Nevermind, o segundo disco dos Nirvana. A partir desse momento, a cena de Seattle, que já existia desde a segunda metade da década anterior, tornou-se central para a indústria discográfica e para melómanos de todo o mundo. Se os Pearl Jam – fortes ainda hoje – bateram o recorde de longevidade e os Nirvana ficarão para sempre como o símbolo do grunge, outras bandas apresentavam-se de forma mais correcta como verdadeiras criações daquele caldo cultural: com um pé no metal e outro no hard-rock, os Alice in Chains, os Mudhoney e os Soundgarden, apenas para dar alguns exemplos, faziam a ligação dos anos 80 ao futuro da década seguinte.

Depois da belíssima estreia com Facelift, em Agosto de 1990, o grande impulso veio do colosso que fazia então carreiras, a MTV. O canal agarrou em “Man in the Box”, o que puxou pelas vendas do disco e aumentou exponencialmente o público dos Alice in Chains. Quando a banda se preparava para gravar o seu segundo álbum, os astros estavam alinhados. Com já uns valentes anos de existência, aquele era o momento para a explosão: Seattle estava ao rubro, os Nirvana enchiam estádios por todo o mundo, os Alice in Chains já eram conhecidos e tinham um público à espera do seu próximo passo. Só faltava que o material correspondesse a esse enquadramento favorável. Na verdade, foi ainda melhor do que o antecipado.

Gravado em Los Angeles e em Seattle, Dirt acabaria por ser o ponto mais alto de uma banda, então, no seu topo de forma. É certo que Layne Staley, depois de uma desintoxicação, voltara à heroína, e o álcool trazia reféns outros membros do grupo, mas não ainda ao ponto que chegaria mais tarde, impedindo o trabalho e retirando a inspiração e a vontade de criar. Naquele momento, tudo era ainda excitação e rock n roll.

O resultado é um portentoso monumento rock. Um disco mais maduro, complexo e profundo do que Facelift, mas mantendo aquela infalível combinação metal/sludge/pop que diferencia os bons dos magníficos. Se no álbum de estreia ainda se sentia uma espécie de energia adolescente, com tudo o que isso tem de bom e de mau, em Dirt a banda acreditou como nunca na sua capacidade, naquilo que tinha para dizer. Desse movimento nasceu um disco coeso, coerente, sempre a um nível muito alto, e com alguns dos temas que ficaram para sempre na história. No fundo, é isso que faz um grande trabalho: músicas maiores que a vida.

E como classificar clássicos como o profundo “Rooster“, dedicado ao pai de Jerry Cantrell e até hoje um dos seus esforços mais emblemáticos? Ou a extraordinária e sofrida balada “Down in a hole”? Ou as bombas rock absolutamente imparáveis que são “Would?” ou “Them Bones”? Já para não falar da trilogia de heroína, “Junkhead“, “Godsmack” ou “Sickman”, que retratam na perfeição o ambiente pesado e narcótico que atravessa todo o disco.

Na verdade, Dirt está a explodir de grandes temas. Nunca mais os Alice in Chains soaram tão confiantes, tão inspirados, tão a si próprios, como naquele trabalho que vendeu milhões de cópias em todo o mundo, os colocou na primeiríssima divisão do rock mundial e no coração de adolescentes conturbados um pouco por todo o lado.

Os problemas com álcool e drogas só pioraram, e os Alice in Chains pagaram o preço, ainda que com discos de qualidade até hoje, como pudemos constatar em Rainier Fog. Mas em 1992, com Seattle no centro do mundo e Layne Staley ainda longe da sua morte, a banda de Jerry Cantrell parecia invencível.

A obra fica. E está aqui, entre nós, para que a apreciemos e a celebremos, como um dos melhores discos das últimas décadas.