Esqueça o Sergio Mendes folclórico - o diluidor da música brasileira for the gringos, o rei da bossa de elevador. Neste registro de 1963, o pianista niteroiense, recém-chegado do lendário show no Carnegie Hall (Nova York), ergue um dos pilares originais do samba-jazz (pilar este que seria revisto e ampliado por J.T.Meirelles e sua gangue alguns anos depois). Disco há muito cultuado, aqui e no exterior, Você Ainda Não Ouviu Nada! é um autêntico marco na evolução da música instrumental brasileira pós-Bossa Nova. Infinitamente sofisticado, mas ainda assim pleno de suingue, o Bossa Rio (Tião Neto, baixo; Edison Machado, bateria; Edson Maciel, Raul de Souza e Hector Costita, metais) trata aqui de reinventar futuros clássicos da bossa, temas originais de Mendes e - rufem os tambores - apresentar em primeira mão dois standards do maestro Moacir Santos. O qual, por sinal, está presente no álbum como arranjador (ainda que a maioria das faixas tenham arranjos conjuntos de Mendes e Tom Jobim). Prodígio de fluidez, o grupo mantém a coesão e o pulso sambísticos mesmo nas maiores viagens - observe-se que, nas liner notes originais, o álbum é tratado sempre como um disco de samba. E o é: samba de refinamento ímpar e riqueza instrumental, mas sempre samba. Que retorna neste fino relançamento da Dubas, remasterizado e com a parte gráfica inteiramente restaurada.
Trinta e oito anos depois, Você Ainda Não Ouviu Nada! soa bem fresquinho, talvez pela quantidade de artistas que foi e vem sendo influenciada por este tipo de som - Ed Motta e seu Dwitza que o digam!. As jobinianas Ela É Carioca, Amor em Paz e Desafinado ganham balanço todo próprio, gingado, sempre no contraponto entre o baixo e a infernal técnica de Edison Machado. Mas tudo se cristaliza mesmo nas versões de Garota de Ipanema e Corcovado - arranjos e estilo que já fazem parte do inconsciente coletivo da bossa. Igualmente antológicas são as passagens do grupo por Coisa Nº2 e a entortante Nanã, ambas de Moacir Santos, ou o groove impagável de Neurótico, do já citado Meirelles. Um mérito de Sergio Mendes - além do ter reunido este time de feras e concebido o álbum - reside em suas composições, Nõa...Nõa e Primitivo. Em meio a tantas pérolas, o par de temas não soa menor ou menos balançante que os outros.(Marco Antonio Barbosa) (Fonte: Cliquemusic)
Faixas do álbum:
01. Ela É Carioca
02. O Amor Em Paz
03. Coisa N° 2
04. Desafinado
05. Primitivo
06. Nanã
07. Corcovado
08. Nôa... Nôa...
09. Garota De Ipanema
10. Neurótico
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