Em equipa que ganha não se mexe – ou, a mudar algo, é para melhor. Os Beach House mudaram: têm agora um som mais amplo, com mais camadas, mais próximo da catarse de uns My Bloody Valentine que da finitude de uns Mazzy Star. O novo disco, 7, é um portento.

Ouve-se “Dark Spring”, faixa número um, e parece que estamos no álbum errado: há uma bateria intempestiva, que leva tudo à frente e que, minutos depois, tomamos consciência que é o motor de arranque da primeira faixa de 7. A voz de Victoria Legrand continua engolida nas mil e uma camadas dos Beach House, certo, mas há aqui um fervor rock que nos remete imediatamente para “Only Shallow”, faixa que abre o intemporal Loveless, dos My Bloody Valentine.

A produção de Sonic Boom – alter-ego de Peter Kember, fundador dos Spacemen 3, explorador sonoro por natureza, colaborador de gente como Stereolab, Panda Bear e Yo La Tengo – não é, está bem de ver, mero nome no livreto. Mais que um meticuloso organizado, Kember foi, em 7, distribuidor de jogo e um ativo imprescindível para a nova fase dos Beach House. Assentemos e relaxemos: o mundo dos Beach House continua único, inabitado, olhamos de fora, entramos na sala de visitas, mas só à janela, do lado de fora, conseguimos captar na plenitude a profundidade de tudo isto.

é terreno quase extraterrestre no panorama indie atual. Os momentos de intimismo são muitos, o arrastar do verbo é recorrente na voz de Legrand, a guitarra de Alex Scally permanece a banda-sonora de um filme das nossas vidas e da vida de cada um de nós, mas o fôlego e a ambição são agora maiores. Destacar elementos de um portento como este é tarefa ingrata, mas avançamos: “Dive” é perfeita, entre o sono e o sonho, o vulcão e o areal, noite dentro – há um lento avançar e transformar de uma canção em várias cantigas; “Lose Your Smile” embala-nos na mesma medida em que “Drunk in L.A.” nos confronta; “Last Ride”, no fim, é tudo isto e mais alguma coisa.

Parecendo que não, já tomamos contacto com os Beach House há mais de uma década. Se Victoria Legrand é uma Nico dos tempos modernos, Alex Scally é o fazedor maior de todo este mundo de fantasia, que em 2018 se desvia da dream pop mais introspetiva e abraça sem receios o psicadelismo. é um disco de redescoberta, de reencantamento, de reconquista – não que alguma vez duvidássemos do nosso amor pelos Beach House, mas há muito que não estávamos tão apaixonados pelo duo como agora.