segunda-feira, 7 de outubro de 2024

CRONICA - FANNY | Fanny (1970)

 

Sabemos que rock é coisa de cara! É um mundo machista para um cara com testosterona alta. Em meados dos anos 60, as garotas do rock muitas vezes limitavam-se a cantar (Janis Joplin, Grace Slick, etc.) possivelmente com um violão (Joan Baez). Mas na maioria das vezes eles servem como groupies. No início dos anos 60 tínhamos Goldie and the Gingerbreads e The Pleasure Seekers formadas exclusivamente por garotas com estilo rock e billy que publicaram alguns singles. Infelizmente, nada muito sério.

Mas em 1970, enquanto o rock psicodélico estava morrendo, este álbum homônimo de um combo americano feito inteiramente por garotas sob o nome de Fanny foi lançado. Uma novidade para um major!

Fundado em 1969 em Los Angeles por iniciativa das irmãs Millington, Jean no baixo e June na guitarra, ambas nascidas em Manila, capital das Filipinas, o grupo conta ainda com Alice de Buhr na bateria e Nickey Barclay nos teclados/voz. Chamando-se Fanny que pode ser traduzido como bucetinha (quem quiser entender!!?), o quarteto rapidamente demonstra audácia e profissionalismo sem nada a invejar dos machos. Por último, importa referir que Nickey Barclay é um músico de estúdio do Musicians Contact Service de LA, tendo portanto um sentido de arranjos e composições. Rapidamente identificada, Fanny assinou com a Reprise e lançou seu primeiro LP em dezembro de 1970.

Composto por 11 músicas, Fanny oferece-nos um disco entre o rock e o pop onde sentimos a influência do country e do soul (mais uma vez Nickey Barclay tem muito a ver com isso). Começamos com “Come and Hold Me”, uma balada folk rock agradável e gentil que exala despreocupação e frescor. Piano saloon, “I Just Realized” é mais rústico com vocais que trazem comprometimento, em busca de seis cordas elétricas cintilantes. Mantemo-nos no mesmo registo em “Candlelighter Man” que é algo ousado com guitarra nervosa, piano boogie, órgão cavernoso e estratosférico mas sobretudo coros deslumbrantes. “Conversa com um Policial” é um passeio nostálgico.

Começamos o lado B com o hard boogie “Changing Horses”, que traz à mente a falecida Janis Joplin. Vem o alegre “Vinho Amargo” com aromas sonhadores. “Leve uma Mensagem ao Capitão” cheira a sol e a espaços abertos. Sensual e calorosa, “Shade Me” se transforma em um estilo funk e tropical. Concluindo temos “Seven Roads”, um hard blues vicioso para a Route 66.

Mas o atrativo desse LP mágico é provavelmente esse cover do Cream, “Badge” muito mais fantástico que o original. Versão que brinca muito com as emoções, quase às lágrimas onde os coros, o órgão e o violão subirão rumo aos caminhos celestiais. Outro cover bem elaborado, “It Takes a Lot of Good Lovin'” de Booker T. Jones para um ritmo e blues febril e travesso.

Resumindo, à chegada obtemos um bolo bem sintonizado com a sua época desenhado por verdadeiros roqueiros.

No final dos anos sessenta, início dos anos setenta, o rock feminino não era uma utopia. Pena que esquecemos tudo isso.  

Títulos:
1. Come And Hold Me
2. I Just Realized
3. Candlelighter Man
4. Conversation With A Cop
5. Badge
6. Changing Horses
7. Bitter Wine
8. Take A Message To The Captain
9. It Takes A Lot Of Good Lovin’
10. Shade Me 4:32
11. Seven Roads

Músicos:
June Millington: guitarra, voz
Jean Millington: baixo, voz
Nickey Barclay: teclado, voz
Alice de Buhr: bateria, coro

Produzido por: Richard Perry



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