sexta-feira, 11 de outubro de 2024

CRONICA - VANILLA FUDGE | The Beat Goes On (1968)

 

O álbum mais polêmico do Vanilla Fudge. Aquele que você não sabe para que lado segurar. O LP que poderia ter soado a sentença de morte para um grupo promissor.

No entanto, o início do combo de Long Island não começou tão mal. Certamente o primeiro esforço impresso em 1967 foi trabalhoso com esse registro de capas em molho ácido pesado. Felizmente a Atco, subsidiária da Atlantic, tomou a boa iniciativa de relançar certos títulos em formato único para corrigir a situação com a obrigação de Vanilla Fudge fazer grandes digressões em clubes para alargar o público. Sem esquecer dos 45 rpm, “Where Is My Mind” uma música magnífica, soul psicodélico brincando com as emoções. Primeira composição do grupo que iria fazer sucesso e marcar a nascente cena prog italiana (entre outros Le Orme). Só podemos lamentar que esta faixa não apareça num álbum, na melhor das hipóteses numa compilação.

Nesse ínterim, no ano seguinte surgiu o desejo do organista/vocalista Mike Stein, do baixista Tim Bogert, do baterista Carmine Appice e do guitarrista Vince Martell de colocar a história da música em um toca-discos. Só isso! Este projeto ambicioso, para não dizer megalomaníaco, é na verdade uma ideia do produtor Shadow Morton contra o conselho do quarteto.

Girando em torno de um hit de Sonny & Cher, “The Beat Goes On” que dá nome ao LP, esse conceito pomposo não é realmente feito de peças. Com exceção do título homônimo na conclusão com seu registro de ritmo e blues dilapidado, The Beat Goes On é feito de colagens.

Este disco é composto por 11 faixas divididas em 4 fases. Cada um sendo introduzido ou mesmo concluído pelo tema de Sonny & Cher, muitas vezes improvisado num registo por vezes delirante. Como preâmbulo começamos com “Sketch” com um órgão avassalador de clima gótico dando lugar a um piano delicado com uma tímida guitarra acid rock à espreita. Bela introdução, apesar de uma passagem vagamente preocupante.

Mas o que acontecerá a seguir vai piorar. Num ambiente pesado e bom para um peplum Vanilla Fudge revisita-nos em 7 minutos "Divertimento No. 13 in F Major" de Mozart, "Old Black Joe" popularizado por Jerry Lee Lewis, "Don't Fence Me In" de Cole Porter, “Twelfth Street Rag” de Euday L. Bowman, “In the Mood” de Glenn Miller, “Hound Dog” de Big Mama Norton. Primeira fase que termina com um medley de menos de dois minutos de sucessos dos Beatles (“I Want to Hold Your Hand”, “I Feel Fine”, “Day Tripper”, “She Loves You”, “Hello, Goodby). Em suma, ao longo de quatro séculos, Vanilla Fudge funde música clássica, ragtime, rock & roll, blues e pop. Cada sequência é intercalada com três notas esmagadoras, o que torna a renderização difícil de digerir. Não tenho certeza se queremos continuar.

No entanto, o resto pode ser atraente se estivermos dispostos a persistir nele. Principalmente a fase 4 que é influenciada pela trilha sonora do filme La Curé de Roger Vadim (música de Jean-Pierre Bourtayre & Jean Bouchéty) onde uma guitarra tenta nos conduzir a um Katmandu cósmico para alcançar o carma. Uma peça encantadora que se revela elevada, nebulosa, estranha, sonhadora… salpicada de diálogos dos músicos.

Anteriormente, desencantada e dramática, a fase 2 segue o modelo de “Carta a Elise” e “Sonata para Piano No. 14” de Ludwig van Beethoven onde se transforma em rock sinfônico alucinatório. Já a fase 3, com fundo discreto de cravo, xilofone, percussão, órgão com palavras vaporosas, é uma montagem de discursos de políticos (Neville Chamberlain, Winston Churchill, Franklin Roosevelt, Harry Truman, John Fitzgerald Kennedy…).

Para Vanilla Fudge, The Beat Goes On é uma experiência fracassada. Curiosamente, esta segunda tentativa, também por parte da Atco, teve grande sucesso.

Títulos:

1. Sketch
Phase 1
2. Intro: The Beat Goes On
3. Eighteenth Century
Phase 2
4. The Beat Goes On
5. Beethoven
6. The Beat Goes On
Phase 3
7. The Beat Goes On
8. Voices in Time
Phase 4
9. The Beat Goes On
10. Merchant/The Game Is Over
11. The Beat Goes On

Músicos:
Carmine Appice: bateria, backing vocals
Tim Bogert: baixo, backing vocals
Vince Martell: guitarra, backing vocals
Mark Stein: órgão, vocale

Produzido por: Shadow Morton



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