segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Iggy & The Stooges – Raw Power (1973)

 

Raw Power é obra seminal no universo rock e, porque não, da música em geral, uma vez que influenciou muito do que se fez depois.

A lista dos que referem os Stooges, e mais precisamente este álbum como das principais influências para a sua carreira é vasta – encabeçada por um tal de Kurt Cobain, passando por Johnny Marr e o seu comparsa Morrissey, Henry Rollins, Anthony Kiedis, Guns n’ Roses, isto sem mencionar todo o movimento punk, que teve claramente aqui a sua semente fundadora. O termo proto-punk foi inventado algures no tempo de forma aí encaixar os Stooges (juntamente com uns MC5, ou uns Death) como o elo de ligação entre as bandas de garage rock mais abrasivo (Sonics, Monks) e o movimento punk dos Clash, Sex Pistols e Ramones.

Os Stooges sempre foram vistos como uns extra-terrestres que desceram à Terra na forma de Iggy, os irmãos Asheton e o baixista Dave Alexander. Vieram para espalhar o caos, que era reinante nas suas performances ao vivo (reparem que evitei o termo concerto, porque eram de facto mais performances do que concertos, tudo era possível acontecer, desde Iggy esquecer-se das letras, cortar-se, abandonar o palco ao fim de 5 minutos, entrar público adentro mostrando as suas partes, ou mesmo nem aparecerem e isso levar a violência de um público que queria os seus bilhetes de volta, as estórias são muitas). Pelo meio, fizeram dois álbuns, The Stooges (1969) e Fun House (1970) que lhes trouxe pouco mais que uns trocos para gastar em drogas.

Mas houve uma pessoa que viu em Pop algo mais do que o animal em palco, viu letras interessantes, viu ideias por trás de tudo. Essa pessoa foi David Bowie, que o chamou para ir para Inglaterra para fugir do vício da heroína, arranjando-lhe um contrato com o seu manager Tony DeFries para fazer dois álbuns. Frustrado por não conseguirem arranjar músicos que satisfizessem Pop, foram buscar novamente Scott e Ron Asheton para compor a coisa e lançarem-se a Raw Power, que seria então lançado como Iggy & The Stooges. Muita coisa tinha mudado entre Julho de 1971, data separação da banda, e Setembro de 1972, quando começou a ser gravado o novo álbum, mas, como todos sabemos, também há coisas que nunca mudam. A insolência de Iggy fê-lo utilizar apenas 3 de 24 pistas possíveis para a gravação das sessões em estúdio, tornando o som uma amálgama difícil de produzir. Foi chamado Bowie à última hora para ver o que conseguia fazer, mas por razões de orçamento apenas teve um dia para tal e nem o Deus Bowie faz milagres assim. De qualquer das formas, foi essa a versão que foi lançada na altura, para uma pobre recepção. Poucos o ouviram com a devida atenção e ainda menos o compraram. Deu para um ano de turnês, onde torraram o dinheiro todo que seria para os dois discos e a Columbia, bem como o manager correram com eles passado apenas um ano.

Felizmente, a história fez-lhes justiça. Nem sempre assim acontece, mas neste caso é notório que o tempo trouxe às pessoas a maturidade para ver para lá do arruaceiro Iggy. Para ver essa irascibilidade em letras como “I’m the world’s forgotten boy/The one who searches and destroys”. Para ver o amor à causa em “Raw power, it’s more than soul/Got a son called rock and roll”. Para ver o lado melódico da guitarra blues nas baladas “Gimme Danger” e “I Need Somebody”. Para ver o lado anti tabus em “Penetration”. Iggy e seus comparsas estavam claramente à frente do seu tempo, e como tal, precisaram de um pouco mais até os restantes os perceberem. Hoje são uma instituição do rock, e ver a sua homenagem ser feita por Patti Smith e R.E.M. aqui serve de prova irrefutável.

Versão original, de 1973 – Mix David Bowie

Versão inicial, mas só lançada em 1997 – Mix Iggy Pop


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