Norberto Lobo e Bruno Pernadas são os dois geniozinhos da sua geração. Norberto subiu a parada com este comovente disco de jazz.

Sabemos que Norberto é irrequieto, que não gosta de ficar muito tempo no mesmo poiso estético. Começou pelo trigo dos dedilhados acústicos, livres e imprevisíveis como searas ao vento (Mudar de BinaPata Lenta e Fala Mansa). Depois, namoriscou com o blues do Mississippi, no deslizar rude e metálico da sua slide guitar (Mel Azul). Por fim, cometeu a blasfémia de introduzir uma guitarra eléctrica, em explorações cada vez mais vanguardistas (Fornalha e Muxama).

Mas, apesar da fama de saltimbanco, nada nos tinha preparado para algo tão radicalmente diferente como um disco de jazz. Estrela rompe também com o individualismo e virtuosismo que até hoje o definiam. Onde antes Norberto era lobo solitário, agora anda em alcateia de quatro: trompete, bateria, violoncelo e guitarra eléctrica. Onde antes era rapidez e esbanjamento, agora é simplicidade e contenção.

Trompete delicado à Chet Baker? Bateria doce e arrastada? Violoncelo saltitante que quer ser um contrabaixo quando for grande? Os sintomas de cool jazz estão todos lá, esteja ou não Estrela assim arrumado nos escaparates da Fnac. Um cool jazz tropical, bossanovento, metade whiskey, metade rum, com muitas pedras de gelo para nos refrescar numa noite tórrida no Leblon.

A guitarra é aquática e nostálgica, ensopando-nos de infância e maresia. As melodias são lindas de morrer, doces e tristes ao mesmo tempo, como a terna melancolia do passar dos dias. Há qualquer coisa de caixa de música partida, de tias-avós que morreram há muito a oferecerem-nos um saco de berlindes no Natal. Algo de belo e de profundo, que nos faz rir e chorar.

Não nos interessa que o ano esteja ainda a meio. Estrela é o melhor disco de 2018, venha o que vier a seguir.