Banda texana continua a fazer discos deliciosos, desta feita com o apoio do icónico produtor Danger Mouse.

O que têm em comum o Rinoceronte-de-java, o Lêmure-do-norte, o Leopardo-de-amur, e quatro tipos em banda com guitarras? Se a resposta foi estão todos em perigo de extinção, a resposta é correcta, mas não completa. A resposta que procurava é “estão em perigo de extinção há praticamente uma década, já lhe decretaram o fim vezes sem conta, e no entanto, continuam aí.” Felizmente, 2018 tem-nos dado vivas provas disso, tanto em bandas recentes como Ought, Shame, Car Seat Headrest, Preoccupations, Nap Eyes, como em regressos de distintas figuras como Malkmus, Breeders, Jack White, Eels a lançarem discos novos. Em cima destes nomes todos há os Parquet Courts, uma banda já vai no seu sexto álbum, carregando o fardo de manter o perigo de extinção afastado por mais uns tempos.

Vai haver quem diga que não é inovador, que no rock já nada é novo, tudo é reinventado, mas e então? Que se lixe a pressão, a necessidade de inovação constante, sabe tão bem receber coisas que estão na zona de conforto, que são mais do mesmo. A história do rock é feita de cinquenta mil bandas que são mais do mesmo e umas sete ou oito realmente inovadoras e não é por isso que se deixou de ouvir. Os Parquet Courts destacam-se sobretudo por fazerem mais do mesmo de forma extremamente inteligente, piscando um olho a diferentes ramos da árvore, incluindo diferentes sonoridades no seu espectro, dando passos maduros e com isso construindo um nome de destaque na década que estamos.

Human Performance (2014) foi mais fase de transição, mais calmo, talvez relacionado com a chegada dos elementos da banda aos trintas, mas neste o caminho já foi mais enérgico, sendo esse facto mais visível em “Wide Awake”, música que agarra e mete a dançar quem a ouvir. Poderia estar num disco dos LCD Soundsystem pela utilização dos cowbells, ou num disco de !!! pelo ritmo imparável. Podemos aqui também destacar “Total Football”, malha que abre o álbum e faz recordar os tempos de Sunbathing Animal. “Violence”, logo a seguir, faz Bruno de Carvalho encarnar em Savage, assumindo que “Violence is daily life”. “Before the Water Gets too High” e “Mardi Gras Beads” são baladas melosas, “Almost Had to Start a Fight/In and OUt of Patience” é musica dois em um, apunkalhada, comandada por riff abrasivo. Saltamos para a irónica “Death Will Bring Change”, cantada com ajuda de coro infantil e fechamos com “Tenderness”, que tem um piano de pub irlandês a acompanhar Savage enquanto deambula pelos vícios da sociedade actual:

“Leaking fumes we crave, consume, the rush it feels fantastic/But like power turns to mold, like a junkie going cold/I need the fix of a little tenderness”

Se vai ser disco ouvido daqui a 10 anos, a 20 anos, a 30 anos, não faço ideia, mas não precisa, tem o seu interesse ser ouvido em 2018, lá para a frente logo se verá.