Lado A: O Senhor Extraterrestre
Lado B: Amigo Brasileiro
Valentim de Carvalho (1982)
Apesar de uma histórica colaboração em disco com o saxofonista de jazz Don Byas ou de incursões pelo universo da Broadway, o (literalmente) mais alienígena dos discos de Amália Rodrigues é um máxi-single, em vinil amarelo, editado em 1982. O disco apresentava a gravação de duas canções da autoria de Carlos Paião: Amigo Brasileriro no lado B e, no lado A, e a dar título ao disco O Senhor Extraterrestre.
Canção pop, com sintetizadores nos arranjos, mas claramente enraizada numa busca de ligações com o folclore, não deixa de ter na interpretação de Amália um cunho fadista, que amplifica mais ainda o tom invulgar de toda a construção de uma ideia bem humorada, mas atípica e, de facto, algo caída do céu, editada no ano em que aos cinemas chegava o filme E.T. – O Extraterrestre, de Steven Spielberg.
Com música e letra de Carlos Paião, Amália canta…
Noutro dia estremeci
quando abri a porta e vi
um grandessíssimo OVNI
pousado no meu quintal.
E, mais adiante,…
E eu queria saber também
se na terra donde vem
não conhece lá ninguém
que me arranje bacalhau.
Aqui a lembrar tempos de difícil acesso ao bacalhau, que então faziam a notícia entre nós.
Numa entrevista, que Ramiro Guiñazú cita no seu livro Amália no Mundo, a fadista explica, sobre esta canção que não é o seu “tipo de cantiga”, acrescentando logo ela mesma que também não sabe “bem qual é o seu tipo”. Conta que esta canção foi uma “coisa” que a divertiu, mas que “ficou mal gravada”. E diz ainda: “A letra não tem responsabilidade nenhuma, a música também não. Nem eu…”.
Apesar de apresentada na televisão (com magnífico aparato, num programa de Júlio Isidro, encenando um momento em que canta ao estender a roupa) e de recriada, a pedido da plateia, numa atuação na Grande Noite do Fado, O Senhor Extraterrestre foi um disco que passou relativamente a leste das atenções tanto para muitos dos admiradores de Amália como, sobretudo, para o grande mercado em geral.
Contudo O Senhor Extraterrestre transformou-se com o tempo numa peça de culto. E anos depois, num disco de tributo a Carlos Paião, os Mesa fizeram uma bela versão desta canção. Gisela João, depois, deu-lhe mais uma vida no álbum Nua, de 2016.
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