Contrariando aqueles que minimizam a importância (e a necessidade) do Dia da Consciência Negra, abro um espaço nesta página para falar sobre o racismo no Brasil, este que é mais covarde do que sutil, como alguns acreditam.
A marginalização da cultura negra, sem uma instituição que cuidasse de preservar de alguma forma a memória musical dos cativos africanos no nosso país, gerou um curioso lapso na nossa história cultural. Ocorreu um pouco diferente nos Estados Unidos, onde as igrejas protestantes se mantiveram, bem ou mal, como reduto dessa tradição com seus Spirituals, que inclusive ganharam, a partir da década de 40 e pela voz da Marian Anderson, espaço nas salas de concerto, o 'everest' da elite musical.
Embora as culturas de origem africana tenham também se miscigenado pela Brasil afora, como é bem de costume de toda tradição oral, um de seus frutos, o Samba, em questão de duas ou três décadas passou da ilegalidade para se tornar uma das mais legítimas expressões da nossa identidade nacional.
Isso não deixa de, talvez, caracterizar a imensa hipocrisia da nossa sociedade com relação ao racismo, aquele bom e velho 'não somos racistas, mas...': "Não somos racistas, até nos apropriamos de sua música, olha só". Engana-se quem pensa que a apropriação, e até veneração, de uma cultura redimiu a sociedade de um mal tão ancestral quanto esse.
O racismo no Brasil está LONGE de ser uma cicatriz, é uma ferida aberta que sangra diariamente, facilmente verificável tanto nas atrocidades quanto nas pequenas vilezas motivadas pelo preconceito.
O preconceito não se combate com silêncio, se combate com autocrítica, com empatia, com memória.
Com relação a autocrítica pouco pode este humilde blog além de fazer um apelo aos seus poucos leitores, mas com relação à empatia e à memória creio que nada pode ser mais adequado para o dia de hoje do que a postagem de um trabalho único.
O lendário selo 'Marcus Pereira' lançou mão do trabalho do historiador Aires da Mata Machado Filho, que se dedicou a coletar os cantos entoados pelos escravos das fazendas do sertão de Minas e da Chapada Diamantina, e chamou ninguém menos de que Clementina de Jesus, Tia Doca da Portela e Geraldo Filme para interpretá-los. A memória viva dos intépretes, cujos antepassados não tão distantes entoaram cantos como os deste álbum, se aliou à memória resgatada pelo trabalho do Aires da Mata, dando a luz a uma reconstituição histórica do que há de mais ancestral na cultura negra brasileira, um registro belíssimo e poderoso, na tentativa de preencher, ainda que minimamente, essa amnésia autoinflingida pelo descaso da nossa sociedade com o negro e sua história, pelo racismo e, sobretudo, pelo silêncio.
01. Canto I (LXIV PG 85)
02. Canto II (LXII PG 84)
03. Canto III (XXXIII PG 76)
04. Canto IV (XXXIV PG 76)
05. Canto V (XXIII PG 71)
06. Canto VI (XII PG 76)
07. Canto VII (XIV PG 69)
08. Canto VIII (XXXVI PG 77)
09. Canto IX (LXI PG 84)
10. Canto X (XIV PG 83)
11. Canto XI (I PG64)
12. Canto XII (LV PG 82)
13. Canto XIII (III PG 65)
14. Canto XIV (XXVI PG 74)
Voz: Clementina de Jesus, Doca,Geraldo Filme
Tronco, atabaques, xequerê, enxada, cabaça: Djalma Correia
Atabaques, xequerê, agogô, ganzá: Papete
Atabaques, caxixi, xequerê, afoxê: Don Bira
"'O Canto dos Escravos' reúne, pela primeira e única vez, as vozes de Clementina de Jesus, Geraldo Filme e Doca da Portela, entoando cântigos que os cativos africanos cantavam durante o trabalho nas fazendas brasileiras de antanho. São cantares que trazem em sua essência tanto a dor como a força do povo africano trazido à força para estas terras. Não são apenas lamentos, mas jongos e vissungos em ritmos que, muitos séculos depois, dariam origem ao samba. As canções reunidas aqui foram recolhidas pelo historiador Aires da Mata Machado Filho, durante a viagem pelos sertões de Minas Gerais e Chapada Diamantina.'
A marginalização da cultura negra, sem uma instituição que cuidasse de preservar de alguma forma a memória musical dos cativos africanos no nosso país, gerou um curioso lapso na nossa história cultural. Ocorreu um pouco diferente nos Estados Unidos, onde as igrejas protestantes se mantiveram, bem ou mal, como reduto dessa tradição com seus Spirituals, que inclusive ganharam, a partir da década de 40 e pela voz da Marian Anderson, espaço nas salas de concerto, o 'everest' da elite musical.
Embora as culturas de origem africana tenham também se miscigenado pela Brasil afora, como é bem de costume de toda tradição oral, um de seus frutos, o Samba, em questão de duas ou três décadas passou da ilegalidade para se tornar uma das mais legítimas expressões da nossa identidade nacional.
Isso não deixa de, talvez, caracterizar a imensa hipocrisia da nossa sociedade com relação ao racismo, aquele bom e velho 'não somos racistas, mas...': "Não somos racistas, até nos apropriamos de sua música, olha só". Engana-se quem pensa que a apropriação, e até veneração, de uma cultura redimiu a sociedade de um mal tão ancestral quanto esse.
O racismo no Brasil está LONGE de ser uma cicatriz, é uma ferida aberta que sangra diariamente, facilmente verificável tanto nas atrocidades quanto nas pequenas vilezas motivadas pelo preconceito.
O preconceito não se combate com silêncio, se combate com autocrítica, com empatia, com memória.
Com relação a autocrítica pouco pode este humilde blog além de fazer um apelo aos seus poucos leitores, mas com relação à empatia e à memória creio que nada pode ser mais adequado para o dia de hoje do que a postagem de um trabalho único.
O lendário selo 'Marcus Pereira' lançou mão do trabalho do historiador Aires da Mata Machado Filho, que se dedicou a coletar os cantos entoados pelos escravos das fazendas do sertão de Minas e da Chapada Diamantina, e chamou ninguém menos de que Clementina de Jesus, Tia Doca da Portela e Geraldo Filme para interpretá-los. A memória viva dos intépretes, cujos antepassados não tão distantes entoaram cantos como os deste álbum, se aliou à memória resgatada pelo trabalho do Aires da Mata, dando a luz a uma reconstituição histórica do que há de mais ancestral na cultura negra brasileira, um registro belíssimo e poderoso, na tentativa de preencher, ainda que minimamente, essa amnésia autoinflingida pelo descaso da nossa sociedade com o negro e sua história, pelo racismo e, sobretudo, pelo silêncio.
01. Canto I (LXIV PG 85)
02. Canto II (LXII PG 84)
03. Canto III (XXXIII PG 76)
04. Canto IV (XXXIV PG 76)
05. Canto V (XXIII PG 71)
06. Canto VI (XII PG 76)
07. Canto VII (XIV PG 69)
08. Canto VIII (XXXVI PG 77)
09. Canto IX (LXI PG 84)
10. Canto X (XIV PG 83)
11. Canto XI (I PG64)
12. Canto XII (LV PG 82)
13. Canto XIII (III PG 65)
14. Canto XIV (XXVI PG 74)
Voz: Clementina de Jesus, Doca,Geraldo Filme
Tronco, atabaques, xequerê, enxada, cabaça: Djalma Correia
Atabaques, xequerê, agogô, ganzá: Papete
Atabaques, caxixi, xequerê, afoxê: Don Bira
"'O Canto dos Escravos' reúne, pela primeira e única vez, as vozes de Clementina de Jesus, Geraldo Filme e Doca da Portela, entoando cântigos que os cativos africanos cantavam durante o trabalho nas fazendas brasileiras de antanho. São cantares que trazem em sua essência tanto a dor como a força do povo africano trazido à força para estas terras. Não são apenas lamentos, mas jongos e vissungos em ritmos que, muitos séculos depois, dariam origem ao samba. As canções reunidas aqui foram recolhidas pelo historiador Aires da Mata Machado Filho, durante a viagem pelos sertões de Minas Gerais e Chapada Diamantina.'
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