As histórias originais surgiram entre 1920 e 1947 numa série de livros assinados pelo escritor brasileiro Monteiro Lobato. O cenário é uma pequena propriedade rural habitada por uma série de personagens, algumas com dimensão fantástica, neste plano coexistindo tanto os frutos da imaginação do escritor (como é o caso da boneca de pano Emília, um outro boneco, este criado a partir do sabugo do milho, o Visconde de Sabugosa ou ainda a Cuca, uma bruxa com rosto e corpo de jacaré), outros nascidos de mitologias brasileiras (como o Saci) e ainda figuras do imaginário internacional da literatura infanto-juvenil (como a Polegarzinha, a Branca de Neve ou Cinderela), estas últimas com presenças pontuais neste vasto universo de imaginativas narrativas. As histórias do “Sítio do Picapau Amarelo” saltaram pela primeira vez das páginas dos livros para os ecrãs numa primeira adaptação ao cinema em 1951, surgindo um segundo filme em 1973. À televisão estas personagens e histórias chegaram nos anos 50, primeiro pela TV Tupi (1952-1963), com uma última temporada deste ciclo assegurada pela TV Cultura, em 1964. Seguiu-se, em 1967, uma segunda adaptação, desta vez numa produção da Rede Bandeirantes, num conjunto de 39 episódios emitidos até 1969. Mas coube depois à TV Globo, a partir de 1977, a mais célebre e culturalmente marcante das muitas vidas televisivas do “Sítio do Picapau Amarelo”, numa série que se manteve no ar até 1986, somando um total de 1550 episódios.
Com mudanças de elenco ao longo do seu percurso, mantendo-se todavia figuras fixas como Zilka Salaberry (Dona Benta), Jacira Sampaio (Tia Nastácia) ou André Valli (Visconde) ou Romeu Evaristo (Saci Pererê), a série fez, como de resto vinha a acontecer com as novelas da Globo, numa banda sonora que pudesse transcender a própria presença destas canções nos episódios televisivos. Vários nomes de proa da MPB foram convidados a compor e a cantar canções que foram então reunidas no álbum com a banda sonora da série, entre eles Ivan Lins (compôs “Dona Benta” e “Narizinho”), Caetano Veloso (escreveu “Peixe”, interpretado pelo mítico coletivo Doces Bárbaros, que o juntava a Maria Betânia, Gal Costa e Gilberto Gil), Chico Buarque (que, com Francis Hime, assinou “Passaredo”), João Bosco (autor de “Visconde de Sabugosa”) ou, entre outros mais, Dorival Caymmi (que ali surge em “Pedrinho”, “Ploquet Pluft Nhoque (Jaboticaba)” e “Tia Nastácia”). O mesmo Dorival Caymmi juntamente com Guto Graça Mello, assumiu os arranjos e direção da orquestra, entregando a Raimundo Bittencourt os arranjos vocais. Coube contudo a Gilberto Gil o momento que a série imortalizou. Foi ele quem compôs e assinou a canção que se escutava no genérico, “Sítio do Picapau Amarelo”, que não só surgiu no LP com a banda sonora original como teve edição no formato de single (ou “compacto”, como se diz no Brasil), juntando “A Gaivota” no lado B. Um segundo volume da banda sonora surgiria em 1979 incluindo novamente a canção-título de Gilberto Gil e juntando inéditos, na sua maioria da autoria de Dorival Caymmi. Uma quarta adaptação, novamente pela Globo, surgiu entre 2001 e 2007 contando uma vez mais com a canção de Gilberto Gil, acrescentando a banda sonora novas contribuições de nomes como Ivete Sangalo, Carlinhos Brown, Ney Matogrosso, Milton Nascimento, Lenine, Pato Fu, Jota Quest, Cidade Negra, Zeca Pagodinho ou Cássia Eller, entre outros.
Gilberto Gil voltou a gravar esta canção. Incluiu-a, por exemplo, no “Unplugged” de 1994 e mais recentemente apresentou uma nova versão no álbum “Em Casa Com Os Gil”.
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