Há 27 anos, em 20 de dezembro de 1997, os Racionais MCs lançavam Sobrevivendo No Inferno, segundo álbum de estúdio do grupo paulista.
A obra ilustra cruamente a realidade das periferias e dos presídios brasileiros, locais em que a população negra predomina. As letras, assinadas por Mano Brown, Edi Rock e Ice Blue, misturam diálogos, reflexões, estatísticas e efeitos que retratam a rotina do jovem negro nos subúrbios brasileiros, contendo diversas referências à cultura contemporânea, à linguagem de facções e à religião -- primeiro trabalho dos Racionais MC’s com referências a textos bíblicos, Sobrevivendo No Inferno já explicita a influência da religião logo na capa do disco, ilustrada por uma cruz em fundo preto, onde há uma frase do Salmo 23, Capítulo 3: “refrigere minha alma e guia-me pelo caminho da justiça"; outras passagens bíblicas podem ser encontrada nas canções "Genesis" e "Capítulo 4, Versículo 3" (ambas de Mano Brown).
A força do álbum, entretanto, advém principalmente do impacto das letras que discutem temas ligados a desigualdades sociais, miséria e racismo. Os grandes sucessos foram "Diário de um Detento" (baseado no diário do preso Josemir Prado, mais conhecido como Jocenir, ex-detento da Presídio do Carandiru), "Fórmula Mágica da Paz" e "Mágico de Oz" (de Edi Rock). O grupo ainda fez uma homenagem ao cantor Jorge Ben Jor, ao regravar "Jorge da Capadócia". Os arranjos musicais são simples, com uma bateria básica e alguma melodia nos teclados.
Sobrevivendo No Inferno foi lançado pela gravadora independente Cosa Nostra em dezembro de 1997 e, apesar do selo pequeno, tornou-se um imenso sucesso no Brasil, atingindo a marca de 1,5 milhão de discos vendidos. O álbum estabeleceu definitivamente a carreira dos Racionais MC's na cena e provou a força do rap e hip hop nacional, com a obra assumindo um status de referência no gênero. Além de ser atualmente considerado o álbum mais importante do rap brasileiro, Sobrevivendo No Inferno também foi elencado em 14º lugar na lista dos melhores álbuns da música brasileira elaborada pela Rolling Stone e, em 2020, a obra virou livro -- que, em 160 páginas, traz fotos e informações inéditas do grupo.
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