sábado, 21 de dezembro de 2024

Talk Talk “It’s My Mix” (1985)

 Editada em 1985 em poucos territórios, a compilação de remisturas “It’s My Mix” inclui uma canção que estava possivelmente destinada a ser editada como single nesse mesmo ano mas que entretanto acabou por ficar na gaveta. 

Os Talk Talk podiam ser uma espécie de adaptação à música popular britânica dos oitentas do conceito que Michelle (a da Resistência – sim, da série Alô Alô) inscreveu na história da cultura pop: “listen very carefully, I shall say this only once”… Da banda animada pela luminosidade new wave (houve até quem, erradamente, lhes chamasse inicialmente new romantics) que nos deu o belo The Party’s Over em 1982 ao evidente mergulho numa identidade que transcendeu as fronteiras da canção pop para ensaiar flirts com outras formas (de longe vislumbrando-se até algumas liberdades jazzísticas) por alturas de Spirit of Eden (1988), os Talk Talk protagonizaram uma carreira absolutamente ímpar, em muito abençoada pela visão (e personalidade) do vocalista Mark Hollis, mas igualmente marcada pela colaboração (a partir de 1984) do produtor Tim Friese-Green. Cada disco foi de facto diferente, apenas Laughing Stock (o seu canto do cisne, em 1991) tendo revelando proximidades formais face ao álbum imediatamente anterior Spirit of Eden, embora tendo aprofundado a exploração dos caminhos que este já abordara, com maior volume de instrumentos presentes e focando temáticas do foro místico (e, como curiosidade, tendo sido editado pelo selo da Verve, etiqueta com história maior feita em solo jazzístico). Cinco álbuns de estúdio ficaram como registo desse percurso discograficamente ativo entre 1982 e 91, uma multidão de antologias e reedições tendo desde então assegurado novas chamadas de atenção a uma música que entretanto do grupo fez um dos mais notáveis casos de culto nascidos no seu tempo.

Nem todas as antologias dos Talk Talk chegaram ao CD ou até mesmo à era do streaming, pelo que, mesmo estando as faixas envolvidas representadas noutros lançamentos, há discos do grupo que permanecem como tesouros em vinil. É o caso deste It’s My Mix, um LP que junta seis versões de canções que entretanto haviam surgido em máxi-singles lançados de ambos os lados do Atlântico. O álbum recolhe, no lado A, duas versões longas associadas ao álbum de estreia The Party’s Over – Talk Talk (12″ Mix – Extended Version) e  My Foolish Friend (12″ Mix – Extended Version) – e, na face B, três remituras de singles extraídos do álbum It´s My Life, de 1984: It’s My Life (12″ Mix – Extended Version),  Dum Dum Girl (12″ Remix – Extended Version) e Such A Shame (12″ U.S. Remix – Extended Version). 

Estão aqui cinco das seis faixas deste álbum. E sobre a que falta vale a pena um espaço de atenção maior. É há aqui um pequeno tesouro. Possivelmente gravada depois do segundo álbum, e apenas editada oficialmente na banda sonora (praticamente esquecida) de Zabou (1987), estando ainda disponível num single para utilização em jukeboxes em Itália em 1985, partilhando a outra face do vinil com uma canção de Luis Miguel, Why It’s So Hard foi possivelmente uma canção originalmente destinada a lançamento em single, mas que entretanto acabara na gaveta. Chegou a ser apresentada, numa outra versão, em San Remo e, anos depois, seria um extra numa compilação em duplo CD que juntava lados A e B dos singles dos Talk Talk. Na verdade, It’s My Mix acaba por ser o único disco oficial dos Talk Talk no qual Why Is It So Hard? foi apresentada no ano em que entrava em cena. A canção, que surge aqui na sua 12″ U.S. Remix – Extended Version, era aqui dada como um sabor a novidade no momento em que se juntavam, num mesmo alinhamento, outros máxis do grupo. Mais próxima das linhas pop de It’s My Life do que dos caminhos que a música do grupo tomaria logo depois, em 1986, em The Colour of Spring, este Why Is It So Hard? deve ter soado a qualquer coisa como mais do mesmo para o grupo. E talvez por isso tenha acabado na gaveta… Essa decisão deverá ter acontecido, porém, apenas depois do lançamento, em 1985, deste It’s My Mix, disco que teve apena edição nos EUA. Canadá e Itália. 



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