A versão surgiu em “Red Hot + Blue” e teve depois uma edição (limitada e numerada) no formato de máxi-single.
Entre o fim da etapa que ficou fixada no álbum Rattle & Hum e o momento de surpresa gerado pela edição de The Fly (1991), o single de avanço que destapou um primeiro véu sobre Achtung Baby, os U2 não ficaram em silêncio total. E, em 1990, de facto surgiram no alinhamento de Red Hot + Blue, um disco que surgia como primeira ação de campanha de uma nova força que entrava em cena para criar acções de luta contra o vírus VIH (a Red Hot Organization) e que era, ao mesmo tempo, um tributo às canções de Cole Porter. Não era a primeira vez que os U2 apresentavam uma versão, mas o seu Night and Day não se parecia com nada que o grupo tivesse criado até então, sugerindo sinais de atenção a pistas que por aqueles dias cruzavam vivências rock com os aromas que então emergiam mais perto de quem lidava com electrónicas e as batidas mais associadas a uma nova dance music que conquistara visibilidade maior na reta final dos anos 80. Não o sabíamos, mas o som dos U2 nos anos 90, de Achtung Baby e Zooropa a Pop, começava aqui a dar primeiros sinais de vida.
A canção, como as demais de Red Hot + Blue, foi acompanhada por um teledisco. E em concreto representou a primeira colaboração entre os U2 e o realizador Wim Wenders, com quem voltariam a trabalhar mais adiante, por exemplo, no filme Million Dollar Hotel. Além da presença no álbum da Red Hot Organization, a versão dos U2 surgiu numa edição proporcional limitada e numerada no formato de máxi-single, apresentando cada face uma mistura distinta: Night and Day (Twilight Remix) e Night and Day (Steel String Remix), ambas assinadas por Youth. A produção também revelava créditos invulgares: Paul Barrett (engenheiro de som que trabalhava habitualmente com o grupo) e do próprio Edge.
A canção, na verdade, tem uma história antiga, já com 90 anos… E foi em finais deu 1932 que o mundo a escutou, pela primeira vez. Assinada por Cole Porter, ganhou voz pela primeira vez a 7 de novembro desse ano em Boston quando o musical The Gay Divorce, com canções de Cole Porter e texto de Kenneth Webb e Samuel Hoffenstein, baseado numa adaptação de um original de um livro de Dwight Taylor, começou a sua rodagem nos chamados “tryouts”, espetáculos noutras cidades que precediam uma eventual estreia em Nova Iorque, na Broadway. Com Fred Astaire como protagonista, naquele que seria o seu último papel na Broadway, The Gay Divorce chegou ao palco do Ethel Barrymore Theatre a 29 de novembro, passando depois para o Schubert Theatre, vivendo uma carreira de 248 espetáculos nessa sua produção original, seguindo depois para o West End, em Londres.
Poucos dias antes da estreia Fred Astaire tinha passado pelo Gramercy Recording Studio, em Manhattan onde, acompanhado pela orquestra de Leo Reisman, registou uma primeira gravação de Night and Day. O disco (de 78 corações) seria editado a 13 de janeiro de 1933, apresentando na outra face uma gravação, captada no mesmo dia, deu I’ve Got You on My Mind, outra das canções de Cole Porter estreadas em The Gay Divorce. O êxito, que vinha já do palco, seria amplificado pelo disco, que se tornaria o mais vendido nos EUA em 1933, somando um total de 22.811 unidades, tendo ocupado o primeiro lugar da tabela da Billboard durante dez das 18 semanas nas quais surgiu classificado na lista.
O tremendo sucesso da canção (e do musical) gerou uma adaptação ao cinema, em 1934, mas com uma ligeira alteração no título: The Gay Divorcee (que chegaria aos ecrãs portugueses em 1936 com o título A Alegre Divorciada. No filme apenas Night and Day restava do alinhamento original das canções apresentadas no teatro. Contudo, Fred Astaire retomava o seu papel, representando o filme o segundo de uma série de clássicos nos quais fez dupla com Ginger Roberts.
O sucesso do filme deu ainda maior visibilidade à canção que, então começava já a conhecer novas versões tendo, até hoje, sido recriada em disco mais de 800 vezes. Aos longo dos anos deram voz a esta canção nomes das mais variadas geografias e géneros musicais. Entre os muitos que cantaram ou recriaram instrumentalmente Night and Day estão vozes “clássicas” como Bing Crosby, Doris Day, Sammy Davis Jr ou Frank Sinatra, figuras do jazz como Billie Holliday, Ella Fitzgerald, Stan Getz, Charlie Parker ou Diana Krall, referências da soul como Tempations ou Dionne Warwick, brasileiros como Sérgio Mendes ou Bebel Gilberto e figuras do universo pop/rock como Ringo Starr (no seu álbum de estreia a solo), Rod Stewart, os Everything But The Girl, o norueguês Sondre Lerche ou, claro, os U2.
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