quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Indochine “Babel, Babel”

 São uma verdadeira instituição na história pop/rock made in France. Quando surgiram no mapa, em 1982, juntavam-se a nomes como os Taxi Girl (onde militava então Mirwais Ahmadzaï), à luso-descendente Lio ou a um muito jovem Etienne Daho, criando as bases para uma pop eletrónica francesa. Na primeira década de vida lançaram álbuns com arrojo pop como “L’Aventurier” (1982) e “Le Peril Jaune” (1983), conquistando logo depois (sem ceder na identidade) um patamar de sucesso maior com “3” (1985), “7.000 Danses” (1987)” e “Le Baiser” (1990), ao que se seguiram tempos difíceis durante os noventas quando, entre álbuns de impacte menor, a saída do co-fundador Dominique Nicolas (em 1994) ou a morte de Stéphane Sirkis (1999), gémeo do vocalista e eterno timoneiro Nicola Sirkis. O inesperado suceso de “J’ai demandé à la lune” (do álbum “Paradize”, de 2002), devolveu os Indochine a um plano de sucesso, e respeito que, nos últimos 22 anos os tem colocado num plano de reconhecimento que deles faz uma força veterana da pop em terras de França, cativando plateias maiores frente aos seus palcos e mantendo uma atividade criativa de agenda editorial menos recheada, mas nem por isso com dieta de intensidade e músculo no som.

Sete anos depois de “13” (talvez o melhor álbum da banda desde o seu período clássico), eis que agora entra em cena “Babel, Babel”, um décimo-quarto álbum que, apesar do espaçamento entre dois novos títulos de estúdio, não corresponde necessariamente a uma etapa de silêncio, até porque entre ambos surgiu um díptico de antologias que assinalou os 40 anos de vida do grupo, uma nova digressão e um 13º álbum ao vivo (“Central Tour”, em 2023). Longo e pujante, “Babel Babel” não foge à linguagem pop de uma banda que sempre aliou a força da eletricidade das guitarras ao fulgor que as electrónicas podem levar a uma coleção de canções, segundo ensinou o grande livro da new wave, em finais dos setentas. Vincando uma faceta política que marcara já o anterior “13”, o novo álbum, que se apresenta dentro de uma capa feita a partir de uma fotografia de David LaChapelle, “Babel, Babel” não mostra sinais de qualquer eventual vontade  do grupo veterano em mergulhar em aventuras nem mesmo a mudar de rumo. Um sentido de familiaridade habita canções que celebram uma escrita que se mantém fiel a uma linguagem transversal à obra do grupo, talhadas para a entrega vocal sempre potente de Nicola Sirkis. 

Quem gosta dos som dos Indochine (é o meu caso) reconhecerá aqui, tal como em “13”, uma banda veterana em forma, capaz de juntar mais um capítulo consequente à sua obra. Quem procura inovação e revolução, se calhar não era má ideia apontar os radares noutras direções. E na verdade, no plano da inovação (e não será dado maior a ponderar como eventual novo rumo o pontual tempero reggae e electro de “La Belle et La Bête”), vale a pena sublinhar que, nascido após um hiato de sete anos (no plano dos inéditos), este é um álbum que sabe acrescentar primor técnico a uma linguagem já bem cimentada. Talvez seja um pouco longo (a versão em vinil surge como álbum triplo, mas com prensagem com um som irrepreensível), mas a sucessão das canções está arrumada com saber de quem sabe fazer um acoplamento de faixas num álbum. Concluindo: neste caso é melhor ser moderno do que modernaço…

“Babel, Babel”, dos Indochine, está disponível em 2CD, 3LP e nas plataformas de streaming, num lançamento da Indochine Records



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