Agnes Obel – Citizen Of Glass (2016)

Você pode ouvir um jazz rítmico, com um piano contido, às vezes tímido, acompanhado por uma voz doce e sussurrante no tom de um sonho REM. Em outro tempo, outra cor e outros sons, um tipo de folk noturno e inquietante, cheio de personalidade e vida. A terceira cor emite sons de estalo que são identificáveis ​​por suas características. O produto dessa mistura é o que Agnes Obel , pianista, compositora e cantora dinamarquesa, faz, com a escassa companhia de alguns arranjos de cordas, produzindo todo aquele som lindo e inebriante, no qual a orquestra filarmônica pode ser, em um dado momento, uma ferramenta pura para converter joias minimalistas do folk-pop em uma espécie de trilha sonora para um filme imaginário.
"The dark and the ghost / They dance so sweet and slow" poderia ter sido um dos últimos versos de Leonard Cohen, mas é a música de abertura de seu terceiro álbum, Citizen Of Glass . Baseada em Berlim, ela dedica este álbum, lançado no final de 2016, ao conceito alemão "Gläserner Bürger", um "cidadão de vidro" indefeso contra sua superexposição midiática, como refletido na faixa de abertura "Stretch Your Eyes": "Um aperto que vai segurar / Tão firme e próximo / Em volta da minha garganta com / O peso de todas as nossas vidas" .

Agnes Obel diz que se deparou com esse tema ao ler Der Spiegel, após a morte de seu pai em 2014. Um pianista de jazz que teve que deixar sua vocação para viver seu trabalho e a quem Obel sente que deve tudo. Essa fragilidade do "cidadão de cristal", provavelmente a mesma que sentiu após a morte do pai, também se reflete na cuidadosa instrumentação do álbum, em que o habitual piano e cordas convivem com outros elementos como um gigantesco Trautonium recriado da forma como foi construído na década de 1920, e sua própria voz distorcida como resposta a si mesmo, abrindo caminho para interpretações em "Familiar".
O resultado é um ótimo álbum folk, bem cuidado, com preocupações que vão além, como ela mesma menciona, citando Debussy, Lee Hazlewood e The Walker Brothers como influências, e com uma música de caráter cinematográfico. Citizen Of Glass situa-se entre a delicadeza e a sinuosidade da música de câmara, os swings do folk e os flashes que brincam com atmosferas mais típicas da música de vanguarda mais paisagística, soando como uma trilha sonora de um filme de David Lynch, com um ar tão místico ("Red Virgin Soil") quanto retrô ("It's Happening Again"), neofolk ("Stone"), timburtoniano ("Trojan Horses") e até processional ("Familiar").
Uma obra que é uma verdadeira elevação da música como forma de arte. Tão impressionante, tão perfeitamente realizado, tão evocativo e inebriante como uma manhã perfeita de inverno, terrivelmente fria, mas dolorosamente bela. Um dos álbuns do ano de 2016.


lista de faixas :

01. Stretch Your Eyes
02. Familiar
03. Red Virgin Soil
04. It's Happening Again
05. Stone
06. Trojan Horses
07. Citizen Of Glass
08. Golden Green
09. Grasshoper
10. Mary