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Dan Bejar continua mestre do seu ofício, remexendo em baús vários e de lá tirando matéria prima em bruto para a delapidar e fazer diamantes.
Numa altura em que a Inteligência Artificial é o centro de muitas conversas e debates, bem como de investimentos avultados para pesquisa e desenvolvimento na área, lança-se a recorrente discussão de robots vs homens, tear mecânico vs manufactura, máquinas vs artesãos. Bejar, na sua forma Destroyer é um destes artesãos, poucos, cada vez menos, em claro risco de extinção, exímio no seu trabalho de criar pequenas pérolas em formas de canções elegantes e intrigantes. ken, décimo segundo álbum de uma carreira já longa, é mais um intricado conjunto de conjugações de melodias e versos que criam cenários pitorescos, em igual medida sombrios e luminosos.
Recorrendo a informações recolhidas em entrevistas dadas por Bejar a propósito deste álbum, as referências colocadas em cima da mesa são vastas, quer em termos de amplitude de espectro, quer de tipo de arte. Vemos nomes tais como Suede, Cure, Pete Doherty, Jean Renoir, Charles Dickens, Shakespeare invocados, uma amálgama que só uma mente como esta poderia conjugar num só disco. E faz isto tocando em temas perfeitamente actuais; em “In The Morning”, a linha “Bands sing their songs and then disappear.” é a realidade pura e dura das bandas de pop rock de hoje; a vã esperança em “Ivory Coast” – “Good things come to those who wait forever”; em “La Regle du Jeu” diz que se sente a cantar para uma América no seu leito da morte; enquanto que em “A Light Travels Down the Catwalk” o ataque à futilidade é desferido com precisão:
Strike an empty pose
A pose is always empty
The girl sure loves her roses
The camera lens closes
On bullshit for the night
Dan Bejar revela que escolheu o nome Destroyer para a sua persona por lhe dar ar de rock n’ roll, mas na verdade e apesar de ir beber a algumas influências desse campo, a sonoridade baseada em sintetizador e saxofone é reinante, com a guitarra a surgir de quando em vez. Mas a voz é mesmo o mais aliciante em todo este disco, umas vezes em registo praticamente falado, outras cantando melancolicamente, entrando-nos aos poucos nos ouvidos com uma delicadeza única.
Depois do estrondo que foi Kaputt (2011) a fasquia ficou altíssima, praticamente impossível de atingir novamente a magia desse álbum, mas ken não lhe fica muito atrás, mostrando que a elegância colocada ao serviço da música é uma qualidade que diferencia Bejar das citadas bandas em “In The Morning”, que andam por aí um, dois anos máximo em festivais e depois desaparecem.
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