Apesar de serem hoje reconhecidos como uma banda de Baltimore (no estado norte-americano do Maryland), berço também de Philip Glass ou dos Animal Collective, os Future Islands têm a sua pré-história na costeira Morehead City (Carolina do Norte), onde os amigos Sam Herring e Gerrit Welmers viviam a uma rua de distância, com a música então mais sujeita ao verbo escutar do que à vontade de criar. William Cushion, nascido não muito longe dali, tinha já começado a tocar guitarra e em bandas ainda nos tempos de escola, frequentava um curso de fotografia quando ali conheceu Sam Herring. O trio entendeu-se e o desafio para criar uma primeira banda surgiu pouco depois mas, na hora de escolher quem tocava o quê, Gerrit escolheu as teclas, Sam assumiu o lugar atrás do microfone e William, surpreendentemente, optou pelo baixo. E desta conjugação nasceu um rumo distinto, herdeiro tanto dos legados de uns Kraftwerk e OMD como da escola Peter Hook (e descendências). O projeto, então sob a designação Art Lord & the Self Portraits e com toda uma carga literária, filosófica e cénica a marcar as canções e atuações, foi ganhando corpo e somou vivências. Até ao dia em que resolveram libertar-se de primeiros concertos, arranjar novo nome e, sem abdicar da música e das referências de base, procurar outro rumo. Já como Future Islands estreiam-se em palco em 2006, editam um álbum de estreia em 2007, cativam atenções da Thrill Jockey pela qual lançam os dois discos seguintes e, em 2014 dão por si no catálogo da 4AD pela qual apresentam “Singles”, álbum que os leva a um patamar de reconhecimento alargado, estatuto que cimentam depois com “The Far Field” (2017) e “As Long As You Are” (2020).
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Um hiato de quatro anos, na verdade preenchido pela gradual apresentação de seis singles que agora vemos reunidos no novo álbum, preparou o caminho que agora nos traz a “People Who Aren’t There Anymore”, sétimo álbum e talvez o mais sólido do percurso com quase 20 anos dos Future Islands. Tematicamente marcado por ressonâncias do fim de um relacionamento (o de Samuel Harring, uma das consequências pessoais dos dias vividos em pandemia) e ainda a perda de um amigo. É por isso perante pessoas que já ali não estão que nasceram as ideias transformadas em canções que reafirmam os Future Islands como uma das forças pop mais recomendáveis da atual cena indie norte-americana. Synth pop para sabores gourmet a juntar a um menu de referências do nosso século onde podemos juntar nomes com o os extintos Wild Beasts, o projeto de Ernest Weatherly Greene Jr. (ou seja, Washed Out) ou bandas como os Hot Chip ou Cut Copy, embora estas com reforço nas vitaminas para pista de dança. As canções são bem estruturadas, a voz conquistou definitivamente personalidade. E, a bem do alinhamento, há frestas de luz entre as linhas de melancolia que os temas sugerem… Escute-se “King of Sweeden”, que ainda por cima abre o álbum, para sentir que, nem perante a dor, a pop desiste da cor.
“People Who Aren’t Here Anymore”, dos Future Islands, está disponível em LP, CD e nas plataformas digitais, numa edição da 4AD.
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