Os concertos adivinhavam mudanças, Casa de Cima confirma-as. A subtileza ganhou novo peso no rock das Pega Monstro.

Tensão e distensão – eis a fórmula do sucesso de Casa de Cima. Se o anterior Alfarroba confirmava as Pega Mostro como caso sério da nova música portuguesa, o novo disco das irmãs Júlia e Maria Reis mostra que a reinvenção pode ser bem-vinda. Mantendo alguns traços característicos do duo – em especial a forma como liricamente trata assuntos sérios com a linguagem mais urbana (abundam as referências a espaços lisboetas) e despudorada (“Às três da manhã é mais fácil ser diferente”, cantam na belíssima “Sensação”) -, as Pega Monstro inovaram a fórmula.

Casa de Cima traz canções menos directas (quase metade dos temas – três em sete – dura mais de seis minutos, quando no antecessor Alfarroba eram poucas as que se prolongavam além dos quatro) e um maior experimentalismo nos temas, onde se exploram agora vários andamentos e dinâmicas. A intensidade e o nervo ainda lá estão mas mais doseados, intercalados agora com melodias mais calmas e uma limpidez crescente no canto. No fundo, em Casa de Cima ouve-se o que os concertos das Pega Monstro já indiciavam: que Júlia e Maria Reis estão mais interessadas em renovar fórmulas e fazer de cada disco uma viagem do que em reunir um conjunto de singles (não se encontram facilmente aqui) reminescentes do punk e garage-rock. A reinvenção saúda-se e o resultado não desilude. Brinde-se com “Amêndoa Amarga” porque também ela já antecipava o futuro.