O tempo ganhou outro ritmo na vida dos Vampire Weekend quando, após o trio inicial de álbuns (editados entre 2008 e 2013), um hiato de seis anos se seguiu até ao aparecimento do sucessor “Father of The Bride” (2019). Repetindo este regime, só agora, cinco anos depois, entra em cena “Only God Was Above Us”, um quinto LP que recupera a ideia de trabalho coletivo entre os elementos do grupo que gerara os discos iniciais e deixa claro, mais do que nunca, uma vontade em transcender os espaços e linguagens pelas quais criaram as canções que os elevaram do estatuto de emergente talento indie nova-iorquino num caso com potencial para levar (sistematicamente) os seus discos ao número um da tabela de vendas de álbuns nos EUA, cimentando, lançamento após lançamento, uma carreira com sólida expressão internacional.
Muito aconteceu depois de “Modern Vampires of The City” (2013) para explicar a criação das rotas que conduziram as canções dos Vampire Weekend aquele que é o mais desafiante dos seus álbuns até aqui. A partida do teclista Rostam Batmanglij (outrora co-autor na composição e figura-chave na produção), a mudança de Ezra Koenig de Nova Iorque para Los Angeles, o aprofundar do trabalho de parceria entre este último e o multi-instrumentista e produtor Ariel Rechtshaid, são algumas das pistas que justificam caminhos que agora vincam mais ainda os novos desafios assumidos pelo vocalista (autor único de seis das canções e co-autor nas restantes quatro no alinhamento) num álbum que, ao invés do anterior (no qual não tiveram qualquer colaboração o baterista Chris Tomson e o baixista Chris Baio), reune em estúdio o trio, contando, desta vez numa única canção, com o velho companheiro Rostam, cuja presença fora fulcral na definição na linguagem sonora dos primeiros discos.
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Num álbum que abre mergulhado em olhares sobre um mundo marcado por guerras e termina, sublinhando uma ideia de esperança, com um longo “Hope”, os Vampire Weekend apresentam um ciclo de dez canções nas quais aceitam várias heranças e azimutes, integrando um coro, mas também um sample dos Soul II Soul, placidez cénica mas também guitarras sujas, ecos do dub mas também um piscar de olho a heranças do trip hop, distorção mas também um sentido arrumado na composição e arranjos, tudo isto sem abdicar em nada da sua personalidade, num conjunto de canções que ora falam do presente do mundo em que vivemos ora evocam Mary Boone, uma célebre galerista nova-iorquina que enfrentou recentemente um problema de dívida ao fisco. Os singles já lançados podem não ser os rebuçados para FM que os álbuns anteriores geraram mas abriram apetites parta um álbum que surpreende e instiga, mas volta uma vez mais a cativar em pleno. A caminho dos 20 anos de vida (a assinalar em 2026) os Vampire Weekend garantem assim, um a vez mais, um lugar na linha da frente das atenções.
“Only God Was Above Us”, dos Vampire Weekend, está disponível em LP, CD e nas plataformas de streaming, numa edição da Columbia.
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