sábado, 22 de fevereiro de 2025

Vera Sola “Peacemaker”

 Não quer ser conhecida pelo apelido do pai (o ator Dan Aykroyd) e na verdade até levou algum tempo até encontrar não apenas um caminho para si e até mesmo um nome. Com estudos universitários feitos na área da poesia, Danielle Aykroyd, que cresceu entre casas da família em Nova Iorque no Canadá (aqui sob paisagem rural), foi desafiada pelo amigo Elvis Perkins para o acompanhar na estrada, em digressão. Da experiência nos palcos nasceu uma colaboração em disco e, daí em diante, a música assumiu um papel de protagonismo na vida da jovem cantora que apresentou em 2017 um EP de versões de canções dos Misfits já sob o nome Vera Sola, o mesmo pelo qual, um ano depois, apresentou “Shades” um álbum de estreia que a revelava agora como autora, num lançamento assegurado por si mesmo, resultando de resto todo o álbum de uma atitude do it yourself, já que o disco foi todo ele gravado e produzido pela própria. 

Seis anos e uma pandemia depois, eis que finalmente chega um sucessor de “Sahdes”. E desta vez “Peacemaker” parece transportar em si argumentos que farão de Vera Sola não uma boa surpresa para quem eventualmente se cruzasse com ela na estrada (e numa das suas caminhadas pelos palcos assegurou primeiras partes de concertos de Sixto Rodriguez), mas um caso sério a ter em conta entre, para já, a lista dos grandes álbuns de 2024. Mais ambicioso do que “Shades”, uma vez que convoca uma banda e arranjos substancialmente mais elaborados, “Peacemaker” junta às genéticas de uma folk algo assombrada que escutávamos em “Shades” uma série de novas cores, ambientes e sugestões. Blues, country, um certo sabor pop gourmet e atmosferas cinematográficas habitam uma música que podia fazer sentido num filme de David Lynch. Nomes como os de Nancy Sinatra (pelo timbre) ou Lana del Rey (pelo tom de desencantamento que brota das palavras cantadas) têm surgido como elementos de comparação em textos, sendo talvez mais interessante as referências (e já li mais do que uma) a Tom Waits quando se pretende encontrar balizas para ajudar a enquadrar o que aqui se escuta. Certo é que “Peacemaker” é um álbum de belas e suaves canções que cativam, com personalidade já evidente nas formas, uma voz que as agarra com teatralidade (nada contra, note-se) e arranjos que as transportam para cenários com sentido de espaço. Para quem não conhecera “Shades”, está aqui talvez a primeira grande descoberta de 2024.

“Peacemaker”, de Vera Sola, está disponível em LP, CD e nas plataformas digitais numa edição da City Slang.





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