sábado, 22 de fevereiro de 2025

Kim Wilde “Love Blonde: The RAK Years”

 Chama-se Kim Smith mas, tal como o seu pai, optou por usar um outro apelido: Wilde. O pai, Marty Wilde (hoje com 84 anos), foi sobretudo conhecido nos seus dias de juventude quer como ator quer como músico. E Kim, nascida em 1960 nos arredores de Londres, acabou não só por seguir as pisadas do pai na música como o teve, juntamente com o seu irmão mais novo Ricky, como principais parceiros criativos para uma aventura nos discos que começou a ganhar forma em 1981 e que, nos anos 80, dela fez uma figura de visibilidade significativa no panorama pop (sobretudo o europeu), tendo depois somado mais alguns momentos de reconhecimento popular, apesar de, após a viragem do milénio, ter dedicado mais frequentemente atenções à jardinagem (tendo mesmo chegado a ter programas na televisão dedicados a esta sua outra paixão). 

Kim Wilde, que foi inclusivamente a cantora pop britânica com maior volume de singles no Top 40 no seu país de origem durante os anos 80, viveu dois grandes momentos de popularidade maior. Um primeiro logo no início de carreira, entre 1981 e 1982, e um segundo, entre 1986 e 1988, quando aos primeiros singles de grande impacte juntou uma nova mão-cheia de canções como “You Keep Me Hanging On”, “Anotherv Step”, “Never Trust a Stranger” ou “You Came”, todos eles claramente apontados ao gosto mainstream de então. Convenhamos que foi mais desafiante a etapa de lançamento, não menos capacitada em ativar uma relação com o grande público, mas mais movida pelo mesmo sentido de urgência com que muitas bandas new wave procuravam novos caminhos possíveis para a canção pop já sob os efeitos da revolução punk.

Na verdade, “Kim Wilde”, álbum de estreia lançado em 1981, está até mais perto do sentido de angulosidade new wave que surgira em canções de uns Blondie (porém sem os flirts com o ‘disco’), Fischer Z, Lene Lovich (sem a mesma carga cénica) ou Vapors em 1981 do que do clima pop de uns Duran Duran, Depeche Mode, Soft Cell ou Heaven 17, que nesse ano também lançavam os respetivos álbuns de estreia. Assinadas por Ricky e Marty Wilde, as canções nascem de uma estrutura pop/rock claramente em sintonia com os modelos que haviam emergido com a new wave, contando com cenografia desenhada por sintetizadores que lhes davam os sabores do momento. O casamento entre um fulgor rock (com guitarras bem presentes), as cores electrónicas e uma voz empolgada, canções de recorte simples, pontualmente escutando outros ecos daqueles tempos (como vapores jamaicanos em “Everything We Know”), fazem do álbum de estreia de Kim Wilde um claro fruto do seu tempo. Pode não ser um álbum de relevância histórica maior, mas deu-nos pérolas pop como “Kids In America” ou “Chequered Love”, dois momentos que acabariam inscritos na memória coletiva.

Um ano depois “Select” acentuava a presença das electrónicas num disco mais desafiante nas formas e já distante das afinidades mais evidentes com a new wave do álbum de estreia. Com o gigante “Cambodia” no alinhamento (que apesar do impacte maior de “Kids In America” talvez seja mesmo a melhor canção de Kim Wilde) e canções como “View From a Bridge” (também editada como single) ou “Ego”, “Select” é um daqueles discos que guardam ecos de um tempo em que uma pop com gosto por explorar sons e ideias era capaz de ativar a comunicação no patamar do gosto mainstream. Não muito longe, mas também não tão no alvo, o terceiro álbum, “Catch as Catch Can” (1983) acentua a deriva rumo a um cada vez maior peso dos sintetizadores na equação. Ainda em sintonia com os valores de “Select”, o álbum de 1983 não foi contudo capaz de gerar o meso tipo de reações, deixando “Love Blonde” e, sobretudo, “Dancing In The Dark” mais longe daquele patamar de reconhecimento que garante capacidade de lutar contra a erosão que a memória muitas vezes vai conhecendo com o passar do tempo. “Catch as Catch Can”, que inclui ainda o belo (e ambiental) “Deram Sequence”, encerrou então uma etapa inicial na obra de Kim Wilde que tinha então na RAK Records a sua casa. Um ano depois a obra da cantora conheceria novo episódio, com ainda mais evidentes vitaminas pop, mas desta vez na MCA Records.

A caixa “Love Blonde: The RAK Years” agora editada junta a estes três álbuns os singles dessa mesma fase (entre os quais “Child Come Away”) e um quarto CD com menos entusiasmastes remisturas contemporâneas de algumas destas canções. 

“Love Blonde: The RAK Years”, de Kim Wilde, é uma caixa de 4CD disponível em edição da Cherry Red




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