
Modern Guilt mostra um Beck cansado do que tinha feito até aqui, à procura de rumo, mas ainda assim sacando coelhos da cartola como poucos.
Após 15 anos e dez álbuns (dos quais 7 oficiais como Beck), o cansaço é um sentimento natural de um ser humano. Beck Hansen mostra-nos que também é um, ao lançar este álbum numa fase insegura da sua vida, cansado de escrever, de conceber músicas, das pessoas. “I’m tired of people who only want to be pleased/ But I still want to please you,” canta na música que fecha o disco, “Volcano”. E começamos pelo fim porque é sem dúvida a música mais pessoal do álbum, onde Beck deixa cair a máscara e nos relata as suas dificuldades, juntando-as aos problemas mais gerais do mundo como o conhecemos em 2008. Em “Gamma Ray” menciona também o aquecimento global (“If I could hold hold out for now/ With these icecaps melting down”) e a necessidade de se extinguir as armas nucleares. Parece que os problemas de 2008 se mantêm na ordem do dia em 2017…
Com apenas 33 minutos, é o disco mais curto da carreira do artista americano, sendo que para isso muito terá contribuído a produção de Danger Mouse, que foi rebuscar muitas das práticas dos anos 60, músicas curtas e eficazes, ritmos surf-rock, pianos a aparecer e desaparecer. “Modern Guilt” é talvez a melhor amostra de uma música pop – simples, muito dançável, sem artifícios desnecessários. Sente-se que Beck começa a incorporar um lado mais melancólico nas suas melodias, sendo que Danger Mouse nunca permite que a melancolia tome conta da canção, incorporando uma parafernália de efeitos. “Replica” é o melhor exemplo disso, parece uma batalha entre o músico que canta a sua letra com uma máquina de sintetizador a querer criar um muro sonoro, ofuscando a outra parte. Já em “Chemtrails” o lado psych-rock é o mais trabalhado, salientando também a bateria de fundo a dar alma ao manifesto.
Após este álbum, como sabemos, Beck demorou seis anos a lançar outro, Morning Phase, esse assim assumidamente melancólico, ou introspectivo, se preferirem. Nos entretantos e para recuperar energias, entreteu-se a criar o Beck’s Record Club, onde se juntou a outros artistas de renome como Nigel Godrich, Thurston Moore (de quem também produziu um álbum), Wilco, Binky Shapiro, Devendra Banhart, Feist, Jamie Lidell, St. Vincent, Sérgio Dias (Mutantes) para recriar álbuns icónicos, como Velvet Underground & Nico, Songs of Leonard Cohen, entre outros. Também aqui mostrou a sua irreverência e capacidade de brincar com o mundo da música, características para com as quais há que tirar o chapéu e aplaudir.
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