Se é sabido que devemos sobretudo a uma geração de grupos britânicos nascidos na viragem dos anos 70 para os 80 o desenvolvimento de uma nova etapa na história da canção pop, nascida da chegada dos sintetizadores à linha da frente das atenções, em muitos casos mantendo acesa a presença das genéticas elétricas que antes haviam dominado os cenários, o certo é que não se conta essa mesma história sem notar as contribuições de alguns nomes chegados do outro lado do Atlântico, em particular os Devo, cuja história nos faz recuar meio século…
Nascidos em 1973 Akron (no Ohio) tendo no seu berço o encontro dos dois manos Mothersbaugh com os também dois irmãos Casales, aos quais se juntou ainda Alan Meyers, os Devo entraram em ceda desde logo com todo um quadro conceitual que começava desde logo por se materializar no seu próprio nome, que vincava uma ideia de “desevolução” da espécie humana (ainda hoje acho que tiveram acesso a uma máquina do tempo e vislumbraram o futuro, ou seja, o nosso presente, que assiste a alguns recuos civilizacionais). Ao nome juntaram uma narrativa que faccionava a sua origem e motivos. Tudo isto sem esquecer um olhar igualmente desafiante na criação musical, que começa sobretudo a ganhar formas mais visíveis a partir da sua estreia discográfica, em clima pós-punk, em 1977.
Depois de primeiros passos (fixados no álbum de estreia “Q: Are We Not Men? We Are Devo!” (1978) nos quais era já visível também uma expressão visual (nas capas, no palco, depois nos vídeos, onde foram pioneiros) de todo um modo de pensar uma obra que queria explorar as diversas manifestações de todo um programa de ideias, foi entre 1979 e 1982, ou sejam, nos álbuns “Duty Now For The Future” (1979), “Freedom of Choice” (1980), “New Traditionalists” (1981) e “Oh No, It’s Devo” (1982), que definiram a etapa mais marcante de um corpo de trabalho que se traduziu numa linguagem pop única. Intensa, angulosa, festiva, luminosa, dançável, desafiante, musculada nas guitarras, animada pelos sintetizadores e pulaste nos ritmos, mantendo vivos os temperos sci-fi, um sentido de humor inimitável e o gosto em observar e comentar a sociedade presente e os nossos comportamentos.

As convulsões que se seguiram a “Shout”, as diversas reuniões e novas formações ainda acrescentaram episódios nos quais, tal como entre as outras vidas dos quase contemporâneos B-52’s, procuraram não se afastar nunca de uma identidade antes já bem demarcada, porém não acrescentando realmente nada realmente significativo ao que nos mostraram entre 1977 e 1982. A assinalar os 50 anos do início da aventura, “50 Years of De-Evolution 1973–2023” propõe um alinhamento que corre, com arrumação cronológica, os principais singles do percurso da banda, entre os quais encontramos clássicos como “Whip It”, “Girl U Want” ou “Working on a Coldmine”, sem esquecer as míticas versões para “Satisfaction” dos Rolling Stones ou “Are You Experience”, de Jimi Hendrix. A edição em CD acrescenta um disco adicional com raridades que amplificam o âmbito deste retrato para além das escolhas mais óbvias. No fim, fica uma tremenda vontade de regressar aos álbuns clássicos dos Devo!
“50 Years of De-Evolution 1973–2023”, dos Devo, está disponível em 2LP e 2CD numa edição da Rhino.
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