
Ao quinto disco, as certezas de sempre e as indefinições do costume: os The Killers têm um vocalista magnífico, cada vez mais temos isso como garantia, mas continuam a não ter canções à altura de Brandon Flowers.
Entre a pop e o rock, o intimismo e a procura de momentos épicos para estádios acolherem, a carreira dos norte-americanos The Killers sempre foi tudo menos coerente. A estreia, com Hot Fuss(2004), deu-nos o melhor disco do grupo – ainda hoje temas como “Mr. Brightside”, “Jenny Was a Friend of Mine” ou “Somebody Told Me” são das melhores coisas que Brandon Flowers e amigos sacaram. Aqui, os Duran Duran eram parente estético, mas ao segundo disco, Sam’s Town(2006), foi Springsteen e algum fulgor rock americano a guiar as canções do quarteto.
Day and Age, dois anos depois, trouxe os Killers de regresso à pop e o desinspiradíssimo Battle Born era um amontoado de tudo isto e nada de grande coisa ao mesmo tempo – safava-se a grandiosidade de “Runaways” e mais um par de momentos, mas o todo era balofo demais para ser verdade. Wonderful Wonderful, agora editado, é encarado pela banda e pelos fãs como um momento decisivo, e há boas e más notícias. As boas, é que é o melhor disco dos Killers desde Sam’s Town. As más, é que não é isso que torna o álbum grande charuto.
“The Man” e “Run For Cover” são temas imediatos, mas pouco inspirados. “Some Kind of Love”, mais lento, é assumidamente influenciado por Brian Eno e, não por acaso, é das melhores canções do pacote. O tema-título, que abre o disco, é bom rock de estádio, mas “The Calling”, lá para o final, é péssimo rock de estádio. “Life to Come” é uma canção muito bonita.
O todo é desigual, está bem de ver, mas os Killers têm uma virtude que, embora obviamente reconfortante, não deixa de ser agridoce: Brandon Flowers é um vocalista de fino recorte, ótima voz, carisma, tudo no sítio certo – está milhas acima do todo que lidera.
Algures entre o luxo e o lixo, Wonderful Wonderful é um disco aceitável, não muito coeso mas ainda assim melhor que algum repertório passado. Se os Killers alguma vez farão um disco tão bom como o da estreia, ou que confirme todo o potencial que (ainda) vislumbramos aqui e ali, é um mistério. Mas a gente vai continuar.
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