A voz soa a algo entre Springsteen e Adams, Bryan não Ryan. A música dança entre o que, imagino, soariam as versões 2.0 de Waterboys ou Fleetwood Mac. E ainda assim, tudo nos War on Drugs soa a próprio.

Fui apanhado desatento. Nem lhes conhecia o nome quando, em 2014, ouvi pela primeira vez Lost in a Dream. Sem nunca os ter ouvido, soaram familiar e, ao mesmo tempo, atuais. Soavam acima do tradicional formato da canção, mas sem nunca lhes descurarem o carinho. Soavam elaborados, mas sem exibicionismos; soavam requintados, mas nunca arrogantes. Ganharam prémios e, além de mim, mais um punhado de fãs. Dois ou três, poucos mais que as distinções entre os álbuns do ano.

Se depois descobri que não era disco de estreia, desde então que fiquei à espera. Dos primeiros ensaios para Lost In A Dream o salto tinha sido gigante – quase tão gigante como “Red Eyes” – mas o que seguiria? Tiro no pé? Um sinal de que já tinham gasto a sua melhor música? Também podia vir uma curva no sentido errado. Não veio.

Deeper Understanding não deslumbra. Não será sequer tão bom quanto o antecessor de que, quase, podia ser lado B. Dizem, a banda é de um homem só. O Adam, homem da produção, capaz de tocar todos os instrumentos, senhor da produção e dos comandos no que aos War on Drugs diz respeito. Talvez. Sendo verdade, os últimos três anos correram-lhe bem. Não deixou estragar a música, não se desviou só aprimorou, tão pouco cedeu à fácil tentação do single.

Mais que pelo hit fácil – “Holding On” e “Nothing to Find” ou “Thinking of a Place” e “Pain”, Deeper Understanding distingue-se pela solidez, pela ausência de pontos fracos, pela música que oficializa o que, na verdade, já todos tínhamos ouvido – a mudança de divisão. Em ano de música nova de Arcade Fire e LCD Soundsystem, Deeper Understanding não será o disco do ano. Melhor que isso é o disco que prova que Lost In A Dream não foi um feliz acidente, o disco que assegura aos War On Drugs um lugar entre os melhores da geração.