
Mais de uma década após a estreia com Mellow Gold, Beck resolve baralhar e voltar a dar mas com uma proposta menos ousada do que os projectos anteriores. Em vez do esperado disco de ruptura, Hansen dá-nos uma espécie de Best Of.
Ao oitavo álbum, ou sexto se não contarmos com Stereopathetic Soul Manure e One Foot in the Grave (muitos não o fazem), Beck não cria um mundo à parte. Antes revisita-se e cria o seu próprio “Best Of” de carreira mas apenas de temas originais. Sendo assim, não terá Beck voltado a fazer das suas? Uma viagem entre os seus, já longos, dez anos de carreira, como que uma introspecção pelo que fez durante esse mesmo tempo. Há bandas que lançam colectâneas ao fim de uma década. Beck lançou Guero.
De volta ao estúdio com os produtores de Odelay, os mágicos Dust Brothers, Beck começa Guero com “E-Pro”, melhor exemplo dessa mesma fase. Riffs desgarrados e beats a acompanhar a fazer lembrar “Devil’s Haircut”. Várias outras semelhanças com Odelay podem ser encontradas em “Earthquake Weather”, “Farewell Ride” e “Hell Yes”.
Do outro lado da moeda conseguimos encontrar o tal best of da carreira de Beck no country blues (“Farewell Ride”) ou na bossa nova psicadélica de “Missing”.
A abrir o disco temos ainda “Qué Onda Guero”, jargão mexicano, que serve de mote para o Sr. Hansen dar uma volta pela Los Angeles hispânica e “Girl”, com a sua onda pop descomprometida, a trazer mais luz para Guero.
Podíamos, então, crer que Guero seria, à data, o melhor disco de Beck. Um álbum que juntava as influências de Odelay, Mutations e Sea Changes não poderia dar errado. A resposta é óbvia. Guero nunca teve qualquer chance de lutar contra os discos referidos; no entanto, e ao contrário das opiniões da altura que consideravam que Guero era o primeiro álbum sobre o qual alguém deveria ter tido a amabilidade de aconselhar Beck a metê-lo na gaveta, o oitavo álbum de originais do Sr. Hansen revela-se um projecto de experiências anteriores mais amadurecido. É verdade que Guero não tem a aspereza artesanal de Odelay, nem o delirante fogo-de-artíficio de Midnite Vultures, muito menos a melancolia em plano aberto de Sea Change, mas convenhamos, também Beck já não era o mesmo jovem que criou Odelay, muito menos o excêntrico de Midnite Vultures. Não somos certamente os mesmos aos vinte e quatro anos do que somos uma década depois. A idade e as experiências pessoais fazem com que a nossa música também se transforme.
Relembre-se que Hail to the Thief dos Radiohead também criou celeuma por se tratar de um regresso a certas fórmulas anteriores. Guero não é certamente o melhor disco de Beck, mas não envergonhou a sua carreira de modo algum.
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