Mutations já tinha sinalizado com distinção que havia um outro Beck para além do feiticeiro rock e funk: o melódico, melancólico, denso. Sea Change, em 2012, é um disco de derrota e perda – e no meio da angústia surgem quase sempre, é sabido, obras de exceção.

Aqui, as letras mais humorísticas e alucinadas são trocadas por textos mais simples, honestos e pessoais. Aqui, há muita viola e muito piano, uma voz em perda, resultado do final de um longo relacionamento – mais a mais em resultado de uma traição da companheira de nove anos.

Do resultado de dissabores pessoais surgem, não raras vezes, transformações artísticas de fino recorte. Beck trouxe angústia e tristeza para Sea Change, disco saído tinha o músico perto de 30 anos. Ainda hoje tem algumas das melhores canções do Beck introspetivo: “Guess I’m Doin’ Fine”, queria ele fazer-nos crer, é sublime e delicada, “Sunday Sun” raro vislumbre de luz em plena mina bem funda, “Lost Cause” é um clássico.

Sea Change é um disco de detalhe, que escutado 15 anos depois do seu lançamento – e dezenas, centenas de vezes depois da primeira – permanece mágico e encantador. É um trabalho robusto, sóbrio, difícil de parir mas que agora nos traz um sorriso: Beck superou esta fase e, no meio da tristeza e da mágoa, gravou um dos seus discos históricos. Tomara cada dor de corno e de desamor redundar em tamanha elegância.