Os Broken Social Scene regressam ao fim de 7 anos, mostrando-se melhores que 87% da música que é ouvida por aí.

Chegados ao ano de 2017, creio que já pouca gente dê por um novo álbum de Broken Social Scene. Pouca gente lhe dará tempo de audição, no meio de uma lista cada vez mais infinita de lançamentos de discos, desde bandas recém criadas a bandas antigas que se mantêm como portos seguros para os que se vão desligando, perdidos num oceano de novas melhores bandas que aparecem a cada semana.

Há que reconhecer que os Broken Social Scene sempre foram, para a grande maioria, uns perfeitos desconhecidos, mas mesmo assim encheram praticamente uma Aula Magna no já longíquo ano de 2010, inserido na tour de Forgiveness Rock Record. Já para a minoria que os segue desde os primórdios (que é como quem diz vá, 2003, altura de You Forgot it in People) foram a melhor banda que o mundo não conhece. Por um momento, ali por volta de 2006 e sobretudo com a magnífica “Shoreline (7/4)”, parecia que iam explodir e seguir os passos de outra banda canadiana que atingiu os escaparates nessa altura, uns tais de Arcade Fire. As semelhanças eram muitas, para além da referida nacionalidade, o número elevado de elementos, o registo sonoro, portanto tudo se enquadrava para serem a next big thing. Mas, por alguma razão, assim não o foi, o destino traçou-se por outras linhas e eles mantiveram-se como a melhor banda que o mundo não conhece.

Fast forward para 2017 – após um ano marcado por desaparecimentos de grandes nomes do mundo da música, estamos perante um ano de regressos aos álbuns de nomes que marcaram a década anterior, tais como LCD Soundsystem, Fleet Foxes, Grizzly Bear, National, Queens of the Stone Age, Phoenix, Spoon. E, claro, os Arcade Fire, e o seu Everything Now, que muita discórdia gerou. Com diferentes opções, uns a serem conotados mais do mesmo, outros a mudarem radicalmente,a meu ver o principal é manter-se a honestidade criativa, e neste quesito os Broken Social Scene conseguiram fazê-lo, inovando enquanto mantendo-se eles mesmos. Para próprio benefício talvez conte o modus operandi de colectivo e não de banda, ou seja a contribuição de inúmeras pessoas (18 no total creditadas) foi aqui utilizada da melhor forma por Drew e Canning, os membros residentes dos Social Scene.

A primeira parte de Hug of Thunder é energia no seu estado mais puro. Canta-se “Protest Songs” como se a vida dependesse disso, “Skyline” em modo repetitivo mas ultra ritmado, “Vanity Pail Kids” em constante evolução a questionar a sociedade actual. Depois há “Hug of Thunder” música, com a levitante voz de Leslie Feist que serve de ponte a uma segunda metade mais introspectiva, lado que os Broken Social Scene também sempre souberam trabalhar (recorde-se “Anthems for a Seventeen Year Old”). “Mouth Guards” fecha o disco em registo quase circense, dando o toque final do álbum a desvanecer por entre as nossas mãos, os nossos ouvidos. São 52 minutos muito bem passados, que prometem ocupar esse mesmo tempo mais vezes por (pelo menos) 2017 fora.