
Uma das figuras emblemáticas do acid rock californiano, triunfante no festival de Woodstock, porta-estandarte de uma próspera contracultura americana. Jefferson Airplane é uma daquelas bandas que definiram uma era.
O grupo foi formado no verão de 1965 em São Francisco, quando a cidade começava a se tornar um foco de protestos, experimentação artística e revolução social. Nas ruas de Haight-Ashbury, entre cafés populares, acontecimentos beatniks e as primeiras ondas psicodélicas, uma nova geração busca quebrar as amarras. Foi nesse turbilhão que Marty Balin, um jovem cantor criado ouvindo pop e jazz, decidiu fundar um grupo na encruzilhada de gêneros. Ele uniu forças com o guitarrista Paul Kantner, um ativista de esquerda e leitor de ficção científica, para lançar as pedras fundamentais do Jefferson Airplane.
Para dar palco à sua música e a esse movimento emergente, Marty Balin também fundou um clube: o Matrix Club, localizado na Fillmore Street. Foi lá, nesta modesta sala com aparência de laboratório de som, que o Jefferson Airplane deu seus primeiros shows e forjou sua identidade. Matrix rapidamente se tornou um marco na cena psicodélica de São Francisco, logo recebendo uma constelação de artistas promissores, incluindo Grace Slick.
Em torno de Marty Balin e Paul Kantner logo gravitaram Jorma Kaukanem (guitarra solo), Jack Casady (baixo), Skip Spence (bateria, mais tarde substituído por Spencer Dryden) e a cantora Signe Anderson, cuja voz calorosa ancora o grupo em suas raízes folk-blues. Diferentemente de outras bandas da época, o Jefferson Airplane não nasceu em uma garagem, mas nos clubes boêmios da Costa Oeste.
Os Estados Unidos em 1965 estão divididos: a Guerra do Vietnã se arrasta, as lutas pelos direitos civis abalaram o país e uma juventude cada vez mais politizada rejeitou os valores conservadores dos mais velhos. Em São Francisco, esse protesto assume uma forma particular, misturando espiritualidade, drogas psicodélicas, arte experimental e utopia comunitária. Jefferson Airplane, com suas guitarras amplificadas, letras carregadas de metáforas e atitude rebelde, está prestes a se tornar a trilha sonora de um sonho acordado... ou de uma viagem coletiva. Era uma época em que as pessoas ainda acreditavam que a música poderia mudar o mundo.
Também em 1965, quando a cena de São Francisco começou a atrair a atenção de grandes gravadoras, o Jefferson Airplane se tornou uma das primeiras bandas psicodélicas da Costa Oeste a assinar com uma grande gravadora: a RCA Victor. Um golpe de mestre para a época. Enquanto outras gravadoras hesitam diante dos supostos excessos dessa juventude rebelde, a RCA percebe o potencial de uma geração em ruptura. O grupo, ainda em processo de formação, entrou em estúdio no início de 1966 com o engenheiro Dave Hassinger, conhecido por seu trabalho com os Rolling Stones.
Antes mesmo do lançamento do álbum, a banda lançou seu primeiro single: "It's No Secret", uma música composta por Marty Balin, que incorpora perfeitamente a mistura de romantismo folk e energia elétrica que a banda quer transmitir. A música teve um pequeno sucesso local, o suficiente para despertar a curiosidade da imprensa musical e dos programadores de rádio underground. Este é um primeiro passo, modesto mas promissor, que permitirá que o álbum veja a luz do dia em boas condições.
O resultado: Takes Off , um primeiro álbum na encruzilhada do folk rock e da psicodelia nascente, bem antes da explosão colorida do verão de 1967. Gravado ao longo de alguns meses, entre janeiro e fevereiro de 1966, o álbum foi lançado em agosto do mesmo ano. Embora continue muito influenciado pelos Byrds, Lovin' Spoonful e Bob Dylan, ele revela uma voz única, pronta para se libertar dos códigos. O som é claro, às vezes ainda sábio, mas já esticado em direção a outra coisa.
Takes Off abre com o ameaçador "Blues from an Airplane", anunciando imediatamente um tom mais sério do que o esperado. O grupo navega entre o folk-rock animado ("Let Me In", "Run Around"), o romantismo elétrico ("Bringing Me Down", "Don't Slip Away") e baladas mais problemáticas ("Come Up the Years"), conduzidos pela voz vibrante de Marty Balin e as harmonias de Signe Anderson. O single "It's No Secret", com seu refrão claro e cativante, captura o espírito do álbum: entre a acessibilidade pop e a urgência contida. O cover tranquilo de "Let's Get Together", doce e despojado, coloca o Jefferson Airplane de volta ao movimento emergente de paz e amor.
Algumas faixas mergulham em uma veia mais sombria: o cover hipnótico e áspero de "Tobacco Road" mergulha no blues de garagem, enquanto "Chauffeur Blues", cantada por Signe Anderson, se destaca como um momento cru e natural. Por fim, "And I Like It", uma conclusão contida de Jorma Kaukonen, dá um vislumbre das possibilidades futuras do grupo que, sem saber, inventou o acid rock. Takes Off ainda não é uma explosão psicodélica, mas sim a decolagem controlada de uma banda em formação, no alvorecer de uma nova era. Um disco ancorado em seu tempo e já pronto para se libertar dele.
Takes Off permanece até hoje como um testemunho precioso de um grupo em gestação, ainda ancorado nos códigos folk-rock de sua época, mas já movido por uma nova tensão. Um álbum de transição, imperfeito mas sincero, onde por trás de cada música podemos sentir a impaciência por uma decolagem mais ampla. Este primeiro voo ainda não fez os céus tremerem, mas já está traçando uma trajetória única. Por mais imperfeito e hesitante que seja, Takes Off se torna uma pedra angular do ainda embrionário rock psicodélico.
Mas à medida que a aventura começa a ganhar força, uma mudança ocorre. Signe Anderson, que acabou de se tornar mãe, não quer se comprometer com as longas turnês que aguardam o grupo. Ela deixou a Jefferson Airplane no outono de 1966, em uma atmosfera pacífica. Sua saída abre caminho para outra voz feminina, com uma granulação mais áspera e um carisma incandescente. Uma chegada que perturbaria o equilíbrio do grupo e incendiaria o cenário do rock psicodélico. A verdadeira decolagem ainda está por vir.
Títulos:
1. Blues From An Airplane
2. Let Me In
3. Bringing Me Down
4. It's No Secret
5. Tobacco Road
6. Runnin' Round This World
7. Come Up the Years
8. Run Around
9. Let's Get Together
10. Don't Slip Away
11. Chauffeur Blues <
12. And I Like It
Músicos:
Signe Anderson: Vocal, Percussão
Marty Balin: Vocal, Guitarra Base
Paul Kantner: Guitarra Base, Vocal de Apoio
Jorma Kaukonen: Guitarra Solo
Jack Casady: Baixo
Skip Spence: Bateria
Produzido por: Matthew Katz, Tommy Oliver
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