sábado, 3 de maio de 2025

Há 54 anos, em meados de 1971, Chico Buarque lançava Construção

Há 54 anos, em meados de 1971, Chico Buarque lançava Construção, sexto álbum de estúdio do artista fluminense. 🇧🇷
A obra marcou o retorno de Chico ao Brasil após um autoexílio na Itália, em meio ao endurecimento do regime militar que assolava o país. Com produção de Roberto Menescal e gravado nos estúdios da Phonogram (atualmente Universal Music), o álbum levou poucos meses para ser concluído, mas condensou um longo período de reflexão e inquietação política -- e acabaria por consolidar Chico como uma das vozes mais sofisticadas da música popular brasileira, tanto liricamente quanto musicalmente.
Classificado como MPB, Construção apresenta uma sonoridade sofisticada, combinando orquestrações regidas por Rogério Duprat, influências do samba, música erudita e elementos do tropicalismo. As letras abordam desde a opressão política até os dramas cotidianos do cidadão comum. O disco inclui os singles “Construção”, “Deus Lhe Pague” e “Cotidiano”, e conta com participações de músicos como Tom Jobim (em "Valsinha", que compôs com Chico) e o Trio Marayá. Já a capa do álbum sugere tanto o ambiente urbano opressor quanto a ideia de resistência criativa em meio à repressão.
Registrado em um momento de extrema censura e repressão (em plena vigência do AI-5), o álbum é uma crítica velada — porém contundente — à realidade brasileira sob a ditadura. A faixa-título, com sua estrutura poética inovadora baseada em versos decassílabos e repetições que se modificam apenas nas palavras finais, retrata a vida alienada e brutalizada do operário, que morre anonimamente no fim da canção. Outras faixas como “Cotidiano” e “Deus Lhe Pague” reforçam a denúncia da rotina mecânica, desumanizante e da exploração social. Ao enfatizar a repetição, o absurdo e a mecanização das ações diárias, Chico traduz em música a sensação de estagnação existencial e desespero silencioso que permeava a sociedade brasileira daquele tempo.
Lançado pela gravadora Philips, Construção foi amplamente aclamado pela crítica, sendo frequentemente citado como uma das maiores obras da música brasileira. Apesar da censura, o disco teve vendagem expressiva e chegou ao topo das paradas nacionais, consolidando ainda mais a reputação de Chico Buarque como intelectual e cronista do Brasil. Sua influência atravessa décadas, inspirando gerações de artistas e pensadores, e permanece como símbolo da resistência artística em tempos de autoritarismo.


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