
Lançado no final de 1967, o álbum de estreia dos Strawberry Alarm Clock assume-se hoje como uma pérola esquecida que cristaliza em vinil o espírito do Verão desse ano através de uma abundância de instrumentos e sonhos bem coloridos.
O respirar de um órgão, a contagem decrescente da baqueta no prato: 1, 2, 3. Boca de sino, bigodes, camisas coloridas, cabelos compridos, coros. Oito minutos de um groove feito de chamas dançantes e solos excêntricos de teclado, vibrafone, flauta, guitarra e bateria, sempre pontuados pelo baixo conciso que também acaba por se expandir. O primeiro longa-duração dos Strawberry Alarm Clock arranca assim, com instrumentos de sobra a brotar lisergia sem ter de recorrer a grandes efeitos, numa jam de oito minutos como poucas bandas pop faziam no tempo do Flower Power.
À primeira poder-se-á assumir que se trata de um disco daquele verão tórrido, colorido e apaixonado de 1967 mas Incense and Peppermints chegaria um bocadinho atrasado, já em Dezembro do mesmo ano. Tendo uma das canções sido número 1 do top da Billboard em Novembro de 1967, o disco só chegaria ao 11º lugar do top (em Janeiro de 1968), tendo sido esquecido ao longo do tempo. Quer tenha sido pelo desmembramento da banda apenas três anos depois ou pelos fortes concorrentes desse ano, o disco acabou por ter a sorte de ser recuperado largos anos depois através da presença do single homónimo em filmes como Austin Powers: International Man of Mystery (1997) e séries como The Simpsons (no célebre episódio em que Homer fuma erva).
Uma pérola pouco valorizada, Incense and Peppermints chega-nos hoje como um dos retratos mais fiéis das ideias e da estética psicadélicas do final dos anos 60. Versos como “Stretch out your mind, feel good / Utopia’s at my doorstep / Come, there is no more hatred” (de “Birds In My Tree”), as harmonias à Beatles e Beach Boys, as influências do jazz e do barroco no vibrafone e no cravo que, como a flauta, vão enchendo de vida e cor as várias canções ou as letras e harmonias oníricas e fúngicas de “Rainy Day Mushroom Pillow” são apenas alguns dos elementos que fixaram em vinil a consciência daquele período. Escondidas nas metáforas que permeiam o disco, fazem-se referências ao estado de um país que, apesar de assistir ao assassinato do seu presidente num desfile e à morte dos seus soldados na televisão, parecia caminhar para uma consciência mais livre. Hoje, é um marco do seu tempo, um objecto sonoro bem datado mas que continua a ser ouvido e descoberto pelos que procuram apaixonadamente todas as pepitas de ouro perdidas nas voltas e viagens dos anos 60. E como resplandece e nos faz viajar esta pepita.
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