terça-feira, 30 de dezembro de 2025

Grandes álbuns do Prog-Rock: Machiavel - "Jester" (1977)

 

As origens musicais do "Machiavel" (uma das bandas de Rock belga mais famosa tendo 22 álbuns ao longo da carreira) podem ser rastreadas em 1974, na região da Valônia (sul da Bélgica), quando dois amigos começaram a tocar juntos:  Marc Ysaye  (na bateria e vocais, neto do compositor erudito Eugene Ysaye) e  Roland De Greef  (no baixo). Quando se juntaram ao tecladista Albert Letecheur,  eles se denominaram "Moby Dick". A formação se completou quando Jack Roskam se juntou para tocar guitarra, ocasião em que eles também decidiram mudar o nome, em 75, para "Machiavel" (sim, uma homenagem ao diplomata e historiador italiano, autor do famoso livro "O Príncipe").
As canções que eles compunham eram influenciadas principalmente pelas bandas de Rock populares da época (YesGenesisLed Zeppelin etc.). No entanto, a habilidade de compositor de Letecheur, treinado em música erudita, compeliu o quarteto a se mover para um território cada vez mais "sinfônico". Foi  Jack Say (nome real: Jacques Ysaye), um parente do baterista Ysaye, que conseguiu um contrato com o selo Harvest, uma divisão da EMI-Bélgica (ele apresentou a banda à Émile Garin, diretor musical da EMI). O álbum gravado no estúdio de gravações de Say (o D.E.S. Studio, de 24 pistas, que também atuou como produtor), em Bruxelas, surgiu nos primeiros meses de 1976 e trouxe várias faixas que já haviam se consolidado como favoritas dos shows ao vivo, especialmente a canção "Cheerlesness".
Se a Bélgica realmente não se notabilizou na história por uma grande lista de bandas de Rock (a especialidade de lá é mesmo chocolates e cervejas), o Machiavel é uma das honrosas exceções a serem sempre lembradas. Neste álbum de estreia, muitos teclados, composições longas e música complexa. O disco abria com "Johan's Brother Told Me" (de mais de 7 minutos e sua brilhante introdução) seguido da citada "Cheerlesness" (de quase tal duração, com fabuloso instrumental), fechando o lado 1 com "Cry No More" (mais de 5 minutos), um pouco inferior às anteriores. No lado 2, "When Johan Died, Sirens Were Singing" (de quase 10 minutos), a curtinha "I Am" e "Leave It Where It Can Stay" (de quase 9 minutos, outro destaque do álbum). Alguns poderão até reclamar dos vocais (que irão melhorar muito no próximo álbum), mas aqui o Machiavel foi pioneiro. Eles foram a primeira banda de Rock belga a tocar no Forest National, o maior espaço de shows do país naquela época (ainda hoje é o maior e um dos mais bem equipados da Bélgica). Mas era só o começo e o melhor ainda estava por vir (não foi a estreia das mais memorável, mas continha ideias excelentes, arranjos distintos e, acima de tudo, estabeleceu o nome "Machiavel" como "os" roqueiros Prog da Bélgica - o álbum vendeu bem, os shows também rolaram legal, entre eles, em ago/76, um no prestigioso Bilzen Festival junto com Rick Wakeman e Camel). Também ficou claro que recrutar um vocalista de verdade elevaria a banda a padrões mais altos. Então, Mario Guccio entrou em cena, enquanto o guitarrista Jack Roskam não parecia mais feliz e saiu para ser substituído por Jean-Paul Devaux. Em 1977, essa nova formação logo se instalou no estúdio mais uma vez e começou a gravar seu segundo álbum que seria chamado "Jester".
De Greef, Ysaye e Jean-Paul Devaux (em pé); Letecheur e Mario Guccio (sentados)
Lançado com uma belíssima arte gráfica, não foi um álbum instantâneo, mas um caso mais complexo que deu a todos os músicos (especialmente Letecheur) ampla oportunidade de mostrar suas habilidades. Faixas de destaque incluiam "Wisdom", "Sparkling Jaw", "The Jester" e "In The Reign Of Queen Pollution" com um tema de letra impressionante sobre alguma civilização futura pós-apocalíptica. Este álbum foi o auge criativo do Machiavel (junto com a Kayak e o Eloy, eles lideraram um 'movimento' para ajudar as bandas "continentais" a lutar contra as britânicas). Prog-Rock sinfônico de excelente execução, interações matadoras entre instrumentos, ótimos teclados, um estilo Prog lembrando um cruzamento entre o Supertramp e o Ange. Canções memoráveis, um talento especial para faixas Prog que colavam na mente do ouvinte, que ficava depois horas cantarolando a melodia. Algumas faixas mais lentas, com algumas quebras e acelerações, mas sempre uma coloração maravilhosa de teclados multicamadas. Vocais bons em inglês e ótima guitarra, às vezes sensível, outras vezes ardente. Atmosferas românticas, introduções, muitas variações, pausas surpreendentes, um Prog harmônico e melódico lindo. Realmente, a adição do vocalista Mario Guccio, bastante expressivo, foi uma acertada decisão. Enquanto as bandas britânicas já apresentavam declínio em 1977, o Machiavel produzia este álbum reciclando ideias de maneira muito legal e demonstrando que no continente ainda havia espaço para o Prog. Definitivamente, um álbum melhor do que o de estreia, com composições mais fortes, tudo melhor encaixado e considerado o melhor da carreira deles. Foi muito bem recebido no país e vendeu muito melhor do que o primeiro.
No ano seguinte, eles lançariam outro excelente trabalho, "Mechanical Moombeams", demonstrando a capacidade da banda em criar Prog-Rock sinfônico de primeira classe. Vendas em alta, shows esgotados e, em 79, "Urban Games", introduzindo outras influências musicais (DiscoHard RockReggae) levando o som mais para um Pop Rock, porém com bons resultados. Isto criou uma fenda entre gostos e ideias dentro da banda e Letecheur e Devaux deixaram o grupo em 79 por divergências artísticas. A banda se reconstituiu com novos membros e seguiu carreira de sucesso, porém distante do Prog de verdade.



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