Que fim levou? Pete Best

 

Randolph Peter Best (cujo nome original de nascença era Randolph Peter Scanland), nascido em 24/nov/1941 em Chenai, capital e a maior cidade do estado de Tâmil Nadu, localizado no extremo sul da Índia (centro industrial, comercial e portuário na baía de Bengala, antiga sede da Companhia Inglesa das Índias Orientais, tendo sido a cidade mais importante da Índia enquanto colônia inglesa), foi o baterista dos Beatles entre 1960-62. Como todos sabem, ele foi demitido pouco antes de a banda alcançar fama mundial. Sua mãe, Mona Best (também nascida na Índia, filha de um major irlandês), tinha um clube, o Casbah Coffee Club, no porão da casa dos Bests em Liverpool, onde os Beatles (na época, ainda conhecidos como Quarrymen) fizeram alguns de seus primeiros shows. John Lennon convidou Pete Best para se juntar à banda em 12/ago/1960 na véspera da primeira temporada de shows do grupo em Hamburgo, Alemanha. Na origem, o pai biológico de Pete Best foi o engenheiro naval Donald Peter Scanland, que morreu durante a Segunda Guerra Mundial. Mona Best estava treinando para se tornar médica da Cruz Vermelha quando conheceu Johnny Best, instrutor de treinamento físico das forças armadas britânicas, que vinha de uma família de promotores esportivos, em Liverpool (eles dirigiam o Liverpool Stadium, uma arena de boxe). Mona e Johnny se casaram em Bombaim e, em 1945, navegou por 4 semanas para Liverpool. Foi Mona quem comprou para o jovem Pete Best uma bateria, que em seguida formou sua própria banda, os Black Jacks, que se tornou o grupo residente no Casbah Coffee Club.

Em 1960, Neil Aspinall tornou-se amigo de Pete Best e alugou um quarto na casa dos Bests. Durante uma das longas viagens de negócios do padrasto de Best, Aspinall se envolveu romanticamente com Mona e, em 1962, um filho nasceu. Aspinall, mais tarde, se tornou o empresário de estrada dos Beatles. Voltando aos Beatles, em 1960, Allan Williams organizou uma temporada de shows em Hamburgo. Na época, ele era o empresário da banda, que estava sem um baterista permanente. Paul McCartney persuadiu Pete Best a ir para Hamburgo com os Beatles, já que os Black Jacks haviam se separado e havia a promessa de que cada um ganharia £15 por semana lá. Os Beatles fizeram seu primeiro show com Best em 17/ago/1960 na Indra Club, em Hamburgo. O grupo dormia no cinema Bambi Kino (nun quarto pequeno e sujo, um antigo depósito atrás da tela). Best era o único que havia estudado alemão e conseguia conversar com o dono do clube/contratante Bruno Koschmider e sua clientela.

Logo, os Beatles perceberam que precisavam de trajes de palco que suportassem horas de suor e pulos no palco. Então, compraram jaquetas de couro, jeans e botas. John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Stuart Sutcliffe foram apresentados ao Preludin, um comprimido para se manterem acordados. Logo, o grupo começou uma residência no clube Kaiserkeller, o maior de Koschmider. Em out/60, o grupo migrou para o Top Ten Club, dirigido por Peter Eckhorn, que lhes ofereceu mais dinheiro e lugar melhor para dormir. Quando Pete Best e Paul McCartney foram no Bambi Kino buscar seus pertences, prenderam um preservativo na parede e atearam fogo. Nenhum dano real foi causado, mas Koschmider (com raiva pela quebra de contrato) os denunciou por tentativa de incêndio. A dupla passou 3 horas na cadeia local e foram deportados em 30/nov/1960 junto com George Harrison (por trabalhar abaixo do limite de idade legal). Na volta à Liverpool, Best e sua mãe é que se movimentaram para recuperar o equipamento do grupo (ainda em Hamburgo) e para agendar novos compromissos (já que eles haviam se separado de Allan Williams). Como Stuart Sutcliffe havia decidido ficar em Hamburgo, Chas Newby (ex-Black Jacks) foi convidado para tocar baixo. Ele contou depois que ficou chocado com a grande melhora na forma de tocar da banda e lembrou que a bateria de Pete Best era agora muito poderosa. Quando o grupo retornou à Hamburgo (em abr/1961), Paul McCartney havia assumido o baixo. 

Enquanto tocavam no Top Ten Club, o cantor Tony Sheridan os recrutou para atuar como sua banda de apoio em uma gravação para o selo alemão Polydor. Esta gravação foi "My Bonnie" (sessão feita em 22/jun/61), que apareceu nas paradas alemãs sob o nome de "Tony Sheridan & The Beat Brothers". Brian Epstein, novo empresário da banda, organizou uma audição na Decca Records, em Londres, no dia de Ano Novo de 1962. Os Beatles gravaram 15 canções, a maioria covers, mas um mês depois a Decca informou a Epstein que os havia rejeitado. Epstein negociou a propriedade da fita de audição da Decca para poder promover a banda junto a outras gravadoras de Londres. Ele também negociou a liberação dos Beatles de seu contrato de gravação com a Polydor alemã (que ainda fez os Beatles gravarem em mai/62 outra sessão apoiando Tony Sheridan). 

Epstein encontrou-se com George Martin, produtor musical da EMI, em 9/mai/1962. Ele aceitou assinar um contrato de gravações com os Beatles com base na audição da fita da Decca. Um teste aconteceu em 6/jun/1962 no estúdio 2 em Abbey Road. Entretanto, Martin considerou Pete Best inadequado e quis substituí-lo por um baterista profissional de estúdio. Quando Lennon, McCartney e Harrison souberam que Martin e os engenheiros preferiam substituir Best, consideraram dispensá-lo do grupo e pediram a Epstein para lidar com a situação. Epstein ficou na dúvida, ele não queria mudanças na formação da banda num momento em que eles estavam se desenvolvendo como personalidades. Consultando outras pessoas próximas, ouviu que não era uma boa ideia, pois Best era muito popular entre fãs. Mas entre focar nos shows locais (onde a banda tinha status e uma renda limitada) e voltar-se para a produção de discos, John, Paul e George decidiram que as gravações eram mais importantes e isto implicaria inevitavelmente num novo baterista. Pete Best tocou seus dois últimos shows com os Beatles em 15/ago no Cavern Club, em Liverpool. Epstein convocou Best em seu escritório e o dispensou no dia seguinte. Epstein tentou Johnny Hutchinson como substituto, mas este recusou dizendo "Pete Best é um grande amigo meu, eu não poderia fazer nada sujo com ele". No entanto, McCartney e Harrison disseram que queriam Ringo. Neil Aspinall estava esperando Best após a reunião com Epstein. Os dois foram a um pub. Aspinall ficou furioso com a notícia da demissão e falou que ele também se demitiria (Aspinall era road manager da banda), mas Best o aconselhou a permanecer no grupo. O relacionamento de Aspinall com Mona Best (e seu bebê de três semanas) havia terminado. Aspinall procurou Lennon e perguntou por que eles haviam demitido Best e ouviu: "Não tem nada a ver com você; você é apenas o motorista". Ringo já havia tocado com Rory Storm & The Hurricanes (outra banda de Liverpool, inclusive em Hamburgo) e já havia substituído Pete Best em situações de doença ou outras impossibilidades.

Houve reações à demissão de Best. A revista Mersey Beat deu a notícia em primeira página. O grupo enfrentou vaias com fãs gritando: "Pete forever, Ringo never!" Um fã deu uma cabeçada em Harrison no Cavern deixando-o com um olho roxo. Ringo Starr acompanhou a banda em sua segunda sessão de gravações para a EMI em 4/set/1962. Após a demissão, Pete Best sentiu-se decepcionado e deprimido. Ficou em casa por duas semanas. Epstein arranjou para que Best se juntasse a outra banda que se tornaria "Pete Best & The All-Stars", que assinou com a Decca e lançou o single "I'm Gonna Knock on Your Door", sem sucesso. Pete Best depois mudou-se para os EUA.

Como "Pete Best Four" e mais tarde como "Pete Best Combo", ele viajou pelo país tocando canções dos anos 50 e outras originais, gravando para pequenas gravadoras, com pouco sucesso. Pete Best não quis dar entrevistas falando dos Beatles e declararia em sua autobiografia: "os próprios Beatles certamente nunca estenderam uma mão amiga e apenas contribuíram para a destruição com suas fofocas prontamente impressas de que eu nunca tinha sido realmente um Beatle, que eu não sorria, que eu era antissocial e definitivamente não era um bom companheiro. Não houve uma única palavra amigável de nenhum deles". Isso culminou em uma entrevista dos Beatles publicada na revista Playboy em fev/65, na qual Lennon afirmou que "Ringo costumava substituir às vezes se nosso baterista estivesse doente. Com sua doença periódica". Starr acrescentou: "Ele tomava pequenas pílulas para deixá-lo doente". Best processou os Beatles por difamação pedindo indenização de US$ 18 milhões, eventualmente concordando com um acordo extrajudicial por muito menos. Pete Best tentou suicídio na década de 1960, mas sua mãe, Mona, e seu irmão, Rory, o impediram. Em 1963, ele se casou com Kathy, uma vendedora de Woolworth's que ele conheceu num dos primeiros shows dos Beatles. Eles permaneceram casados e tiveram duas filhas e quatro netos. Ele trabalhou transportando pães e se tornou funcionário público (gerente de treinamento) em Liverpool.

Eventualmente, Pete Best passou a dar algumas entrevistas e atuou como consultou técnico no filme "Birth Of The Beatles" (de 1979). Em 1995, quando os Beatles lançaram "Anthology", algumas faixas com Best como baterista foram incluídas. Ele recebeu uma grande quantia (entre £ 1 milhão e £ 4 milhões) pelas vendas, embora não tenha sido entrevistado para o livro e para o documentário. Paul McCartney lhe telefonou: "Alguns erros precisam ser corrigidos. Há algum dinheiro aqui que lhe é devido e você poderá aceitá-lo ou recusá-lo". Best aceitou. Em 1988, após 20 anos se recusando a tocar bateria, Best finalmente cedeu e se apresentou numa convenção dos Beatles, em Liverpool. Desde então, ele passou a fazer turnês regulares com sua "Pete Best Band". Em 2008, um álbum inteiramente de material original, "Haymans Green", foi lançado. Aparentemente, ele (com 82 anos atualmente) está na ativa até hoje.